Psicologia Escolar
REFLETINDO SOBRE O ENSINO/APRENDIZAGEM
J.L.Belas -janeiro de 2020
Trabalhei em uma escola durante 23 anos. Foi uma linda e rica experiência para mim.
Entretanto, a clínica absorveu-me nos últimos anos e trabalhar em um colégio deixou de ser meu foco profissional.
Com o convite que recebi para realizar um projeto em Psicologia Escolar no Colégio Marília Mattoso, pude perceber o quanto esse tipo de instituição ainda me encanta, me apaixona e, para minha surpresa, pude perceber que, de fato, nunca fiquei distante dela, pois clínica e educação são “irmãs”, ainda que não gêmeas. Cada uma tem suas particularidades muito bem definidas.
Quando, em meu consultório, atuo como psicoterapeuta, acabo entrando em contato com as histórias, as vivências, os aprendizados adquiridos pelo meu cliente. Tudo que ele vivenciou, ao longo de sua vida, aparece refletido em seu comportamento, em suas atitudes, em seu modo de ser e de se perceber. Esse contato tão próximo e profundo com o meu cliente me mostra o quanto a vida escolar tem um relevante papel na sua formação como Pessoa.
Alguns anos atrás, um grande número de escolas direcionava fortemente o foco de suas atividades para a transmissão de conteúdos, para o ensino de fatos, para a memorização de dados. Era como se tivessem que preparar seus alunos para adquirirem o maior número possível de informações, pois seriam essas que lhes garantiriam o sucesso na vida.
Sabemos que ser bem informado é importante para que se tenha um maior número de ferramentas para solucionar os problemas que surgem no dia a dia. Mas sabemos também que não nos vale de nada uma ótima ferramenta se não soubermos utilizá-la.
A Escola de nossos dias deixou de ser o lugar de estocar ferramentas. Passou a ser o lugar para se aprender como usá-las adequadamente. Em outras palavras, passamos do ato mecânico de apenas estocar, para o ato dinâmico de refletir sobre o que se estoca. Com isso, não só a memória é solicitada a participar do processo de aprendizagem, como também são solicitados todos os demais elementos que compõem aquilo que definimos como inteligência.
Alcançar os objetivos citados acima requer não só uma proposta de exercício da reflexão a ser desenvolvida junto aos alunos, mas também junto aos educadores.
A vida atual é muito corrida. Quase não dispomos de tempo para parar e pensar no que estamos realizando. Geralmente não dispomos de um momento para nos dedicarmos a pensar sobre como estamos utilizando as ferramentas que acumulamos ao longo do tempo, e que poderiam nos proporcionar uma qualidade de vida muito melhor do que a que temos conseguido construir.
Hoje, o educador convive com uma realidade que, caso ele não possa avaliá-la com alguma regularidade e disponibilidade interna, o esgotará emocionalmente tirando dele grande parte de seu potencial intelectual e equilíbrio emocional.
Hoje, as crianças são mais exigentes do que as de alguns anos atrás. Exigem mais explicações, dominam mais ferramentas, estão mais mergulhadas em um mundo bastante complexo que se transforma em alta velocidade. Todos esses fatores, e outros mais, passam a exigir delas próprias e de seus educadores uma dinâmica igualmente mais rápida e reflexiva no processo ensino-aprendizagem.
A reflexão demanda um tempo não necessariamente longo, mas o do tempo bastante para que se absorva o mais plenamente possível, o que se está vivendo. O professor e o aluno precisam disso.
Ajudar o professor a ter este tempo é um modo ajudá-lo a fazer o mesmo com seus alunos. Ajudar o professor a perceber o que, e como, está ensinando, pode ser-lhe de grande ajuda para que seus alunos igualmente possam perceber o que, e como, estão aprendendo.
Queremos “pensar com” o professor. “Refletir com” ele sobre sua realidade profissional, suas metas como educador e pessoa, hoje.
Queremos que as crianças e os jovens, que hoje frequentam nossa escola, possam contar com a ajuda de um grupo de professores ainda mais atentos às características desse “novo aluno” que está sendo preparado para esse “novo mundo”. Se conseguirmos alcançar os objetivos aqui propostos, ajudaremos nossos alunos a utilizarem, na construção de suas vidas, adequadamente e de forma mais plena, o que viverem aqui conosco.
Finalizando esta pequena mensagem, gostaria de lhes lembrar que nós formamos PESSOAS, o que significa dizer que não somos apenas transmissores de conhecimentos. Queria lembrar também que uma PESSOA só se desenvolve e se constrói através do contato com outra PESSOA. Necessitamos conviver com PESSOAS HUMANAS, para podermos nos tornar uma delas.
Desejo a todos os professores do Marilia Mattoso um ano letivo de 2020 pleno de Encontros Humanos, de aprendizagens sobre e com PESSOAS.
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