CRÔNICAS E CASOS – Semana Santa, Ontem e Hoje

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SEMANA SANTA, ONTEM E HOJE

JLBelas / abril / 2007

 

Recebi um e-mail que trazia anexado um texto de Frei Beto, no qual esse autor fazia um interessante comentário sobre a semana santa, seu significado e como as coisas estão mudadas em relação a este período tão importante para os cristãos.
Ao ler aquele texto, imediatamente, veio-me uma série de lembranças dos rituais religiosos, dos quais participava com minha família e amigos, quando ainda era menino.
Já na quinta-feira santa, as pessoas começavam a se preparar para a data da Paixão. A compra do peixe para a refeição da sexta-feira era indispensável.
Na sexta-feira, as casas ficavam em silêncio e as emissoras de rádio praticamente só tocavam músicas selecionadas, preferentemente as clássicas.
Havia um recolhimento e um sentimento de tristeza no ar. Vivia-se a perda de alguém muito querido e respeitado.
Nas igrejas, os rituais solenes e as orações faladas em latim, os sacerdotes paramentados com vestes de cores discretas, as imagens cobertas com pano roxo, tudo isso criava um clima de profunda reflexão sobre o significado daquela data.
Em muitas casas, nem varrer o chão era hábito. O recolhimento e a quietude eram o que se via. Trabalhos domésticos, somente se necessários.
Nos cinemas, eram projetados filmes sobre temas especiais, de preferência religiosos, sendo o mais frequente A Paixão de Cristo. Era comum, na saída da sala de projeções, verem-se algumas pessoas com olhos marejados, sentindo em si as dores experimentadas por Cristo na sua caminhada para o Calvário. E, da manhã até a noite, a Sexta-Feira era SANTA.
Nós, as crianças, aguardávamos, ansiosas, a chegada do sábado, o dia de construirmos um Judas para ser malhado ao meio-dia. Era o momento de lançar para fora toda a raiva sobre aquela figura que, tudo indicava, era culpada pela morte de Jesus. E caprichávamos nos requintes dos detalhes do odiado traidor, que era queimado e destruído a pauladas pela garotada, que vibrava a cada golpe desferido sobre ele.

No dia seguinte, o domingo de Páscoa. A missa pela manhã com a indispensável comunhão, em que se cumpria uma das obrigações como católico: comungar pelo menos uma vez por ano, pela Páscoa da Ressurreição.
A missa, soleníssima. Música vibrante ecoa pela nau do templo.  Cânticos de alegria e cheiro de incenso pelo ar. Os sacerdotes com suas vestes alegres, os coroinhas, as religiosas, as associações e as irmandades em procissão, todos comemorando o Cristo Ressuscitado, que cumpre sua promessa de vida eterna, de ida para junto do pai celeste e que convida todos os fiéis a se juntarem a ele através dessa aliança, que se consolida e ganha forma e concretude através da Páscoa.
E todos saíam da missa como se no céu já estivessem, gozando da Paz tão prometida.
Nessa época, não eram tão necessários os ovos de páscoa, já que a alegria vivida nesses dias “santos” superava aquelas que pudessem vir através dos chocolates ou dos presentes.
Hoje, tenho 67 anos e o de que me lembro da Páscoa da minha infância parece-me sonho.
O que foi perdido ao longo dessa metade de século que passou?