CRÔNICAS E CASOS- Penúltimo Dia Do Ano

PENÚLTIMO DIA DO ANO

J.L.Belas -30.12.07

Acordei tarde, hoje.
A impressão que tive era que queria aproveitar, ao máximo, este finalzinho de 2007, dormindo um pouco mais do que o de costume.
O calor talvez tenha contribuído para que o quarto refrigerado me desse a sensação de estar num refrigerador e, quem sabe, assim conservando as horas finais deste ano que está indo embora.
Depois de um café bem reforçado (Estava morrendo de fome quando acordei.) comecei a perceber que, dentro de mim, havia uma voz de comando dizendo-me que deveria realizar algumas tarefas e que elas seriam inadiáveis.
Muito estranho tudo isso. Mas, como venho aprendendo com o tempo, quando essa voz me ordena, devo obedecer-lhe sem questionamentos. E foi o que fiz.
Olhei para minha mesinha de cabeceira e notei que havia muita coisa sobre ela. De imediato, pensei: não há lugar nas gavetas. Devem estar lotadas.
De fato. Um sinal simples. Uma verdade incontestável.
Ao longo do ano, a gente vai juntando um monte de coisas que se vai colocando nas gavetas, sem tempo para avaliar o que é e o que não é importante para se guardar. Papéis, documentos de todos os tipos, bilhetinhos, troco de centavos, contas por pagar, contas pagas, extratos de banco, manuais de instrução de algum tipo de aparelho que se comprou, garantias… uma infinidade de coisinhas potencialmente moradoras das nossas aconchegantes gavetas, e a minha mesinha de cabeceira tem 3 dessas.
Chego em casa tarde e vejo, sobre a mesa da sala ou na estante de livros, recados, correspondências trazidas pelo carteiro e, já cansado do dia de trabalho, olho cada uma e, como um raio, as classifico: “todas para a gaveta!”. E, com a serenidade de um velho monge, digo para mim mesmo: amanhã eu vejo o que faço com essa avalanche que caiu sobre mim, hoje.
Acontece que “tomorrow is tomorrow, como dizem lá, os do além-México”. E a gaveta, até então “aconchegante”, vai tendo menos espaço do que o de um vagão de um trem da Central do Brasil na hora do rush.
Chega o fim do ano. Olho para minha pobre mesinha. Suas gavetas a transbordar papéis e outros seres certamente alienígenas, tais como chaves de fenda, alicates, cartões de crédito ainda bloqueados, talões de cheques perdidos, cartões de Natal de 2006. Dá para imaginar, não dá?
Aquela vozinha que me deu ordens hoje pela manhã, tinha toda razão para me “ordenar”. Ou eu via isso hoje, ou começaria o ano novo sem espaço.
Tenho convicção de que, depois de levar duas horas seguidas arrumando as minhas gavetas, arrumei, com isso, um monte de espaço também dentro de mim. Um espaço que é criado quando a “casa está arrumada”.
Experimentei uma sensação muito boa depois dessa trabalheira toda. Como se estivesse preparado para um bom começo de 2008: jogando fora coisas velhas e desnecessárias, no lixo, e conservando apenas o que me é necessário e valioso.
Provavelmente, no ano que começa depois de amanhã, a lida diária talvez me leve a engavetar, de novo, um monte de quinquilharias e papéis insignificantes, sem valor. Mas sinto que amanhã, dia 31, vou tomar o meu tradicional chope com os amigos no Chalé-2, ao meio dia, muito mais solto, leve, com a impressão forte de que, de fato, 2007 está terminando bem, ARRUMADO.

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