INESQUECÍVEL

JLBELAS –OUTUBRO DE 2019

Finalmente eu havia chegado aos meus 6 anos. Já era um menino em condições de dar meus primeiros passos rumo ao saber. Não que já não soubesse muitas coisas, pois era esperto e curioso. Acompanhado sempre de minha sanfona de quatro baixos, meus livros de estórias, meus brinquedos e meus almanaques dos super-heróis da Marvel, o mundo real ao meu redor era pequeno, mas, dentro de minha cabeça existia uma Via Láctea inteirinha. Eu voava tal como fazia o Super Homem, navegava em águas profundas como o Príncipe Namor… Minha imaginação me levava para longe, para mundos muito distantes.
Quando ainda tinha meus 5 anos, ganhei de presente um brinquedo muito interessante. Eram quadrados de madeira sobre os quais havia uma figura pintada e, abaixo dela, seu nome ali escrito. No lado oposto desse quadrado havia a primeira letra com a qual se escrevia a palavra correspondente a tal figura. Por exemplo, se a figura fosse uma casa, no lado oposto havia a letra C. Havia também quadradinhos menores, cada um com uma letra do alfabeto. Eram muitos e, com isso, eu podia ver a figura, ver como se escrevia o nome dela e escrever aquela palavra usando aquelas letras pequenas. Uma brincadeira antiga, muito interessante, que existe até hoje.
Como se pode ver, minha alfabetização começou de maneira informal, em minha própria casa, brincando de escrever e ler.
Um ano antes de eu ir, oficialmente, para a escola, tive aulas com uma professora que morava perto de minha casa. Na realidade eu ia lá pra brincar e beber água gelada, coisa rara naquela época em que nem todos possuíam uma geladeira em casa. Tudo era festa!
Nesse clima de descontração e alegria, a escrita e a leitura das palavras começavam acontecer dentro de mim. Com isso, ganhei autonomia e não mais precisei que meus pais, ou as crianças mais velhas do que eu, meus amigos da vila onde eu morava, lessem para mim.
Ao buscar tais lembranças, posso sentir ainda algumas sensações ligadas a essa fase de minha vida. Lembro-me que aquela professora me marcou. Parecia que eu havia me ligado a uma fada que me ensinava truques a serem feitos com as letras. Era , na realidade, uma alquimia com aqueles símbolos que, separados, nada significavam, mas, se agrupados de uma determinada maneira, geravam uma coisa mágica, uma palavra.
Aquela pessoa, minha professora, era detentora de um poder extraordinário, maior do que aqueles que meus super-heróis possuíam. Ela era quem me dava a chave do segredo para poder entrar em contato com eles. A partir dali, eu e meus heróis já não precisávamos de mais ninguém para nos encontrarmos e vivermos nossas fantásticas aventuras.
Minha primeira professora foi uma pessoa da qual jamais me esquecerei. Ela me colocou no mundo. Simbolicamente foi como se eu experimentasse um novo nascimento de mim mesmo. E, a partir dele, uma infinidade de conhecimentos foram colocados diante de meus olhos, mudando, progressivamente, minha realidade e minhas fantasias, minha vida.
Minha primeira professora: INESQUECÍVEL !!!