RESUMO PALESTRA ACP E PSICOTERAPIA COM PACIENTES PSIQUIÁTRICOS

Tópicos escolhidos da palestra on-line do dia 01-07-2020

Bolo, Café e ACP – em Encontro ACP- https://encontroacp.com.br
Psc. José Luiz Belas CRP-05/00218

1- “ACP chegou ao Hospital Psiquiátrico de Jurujuba, em Niterói, RJ ,numa época (1967) em que o trabalho com o paciente internado ainda seguia a forma do manicômio tradicional, onde cada pessoa era percebida, por grande parte dos profissionais responsáveis pelo tratamento delas, como um objeto de estudo, como tendo algum defeito a ser consertado, ou ainda, irrecuperável. A medicação e o eletrochoque eram os principais meios de tratamento.”
2- O fato de não ter um conhecimento teórico significativo sobre a doença mental, era apenas um estudante do segundo ano, atualmente terceiro período, fazia com que minhas ações junto a tais pessoas, “ terapia a meu modo ”, fosse, basicamente, uma tentativa de resgatar aqueles seres humanos que “se distanciaram dos demais”. Quando eles se comunicavam comigo, suas falas me pareciam estranhas. Eu notava que eles viam a realidade de maneira distorcida e viviam num mundo muito diferente do meu. Não sabia bem o que fazer, mas achava que eles deveriam ser atendidos do mesmo modo como todos os outros, aqueles que eu considerava não psicóticos.”
3- “A forma de o psicótico focalizar a realidade pode parecer estranha para muita gente, mas é, exatamente aí – nessa sua visão “ilógica” do que o cerca – que precisamos penetrar, para tentarmos compreendê-lo e ajudá-lo no entendimento dessa sua forma peculiar de percepção.”
4- “Essa tentativa de compreender o mundo da pessoa psicótica, essa busca que realizo com meu cliente, faz de nós cúmplices de uma nova lógica , que nos interliga por meio de uma fala que, para muitos, poderá parecer hermética, mas que – aos poucos – começa a fazer sentido, para mim e para ele.”
5- “Para atender um psicótico, é preciso que a gente fique “louco”, mas mantendo a consciência dessa loucura temporária, que se vivencia nesse encontro terapêutico, ao qual damos o nome de psicoterapia.”
6- “Através dos estudos e vivências na ACP, fui percebendo que o básico nessa terapia é a crença na capacidade da pessoa para organizar suas experiências, crescer, evoluir, etc., desde que o terapeuta, ou alguma pessoa que esteja atuando numa forma de ajuda efetiva, consiga estabelecer um tipo de relacionamento humano no qual estejam presentes algumas condições consideradas fundamentais e básicas, como: compreensão empática, uma comunicação efetiva dessa compreensão, consideração positiva incondicional pelo outro e atitude congruente por parte do terapeuta.”
7- Aprendi que: “A qualidade da relação humana, que se estabelece numa terapia com pacientes psiquiátricos, principalmente com psicóticos, é fundamental.”
8- “Se considerarmos que o psicótico vive num mundo à parte do nosso, que fala uma linguagem diferente da que falamos, ser visitado em seu mundo, pelo terapeuta, é uma experiência profundamente emocionante e surpreendente, para ele e para o próprio terapeuta.”
9- “Um paciente me afirma: “Hoje, (referindo-se à sessão que acontecia naquele momento) eu posso dizer, aqui, tudo que penso. Quando sair daqui, não adianta falar. Lá,(fora do consultório) ninguém entende o que eu falo.”
10- “Quando atingimos um nível de relacionamento como o descrito acima, observamos que o paciente começa a se arriscar a falar mais de si, e a expressar emoções ligadas a seu mundo atual. Fala de pessoas e situações do seu hoje. Esse discurso costuma vir carregado de emoção e sentimentos (raiva, risos…). Percebe-se que, naqueles momentos, ele sai do seu mundo isolado e se aproxima de um outro mundo, o da relação real entre duas pessoas. Torna-se “humano” outra vez: pode abraçar, zangar, sorrir, ponderar, criticar-se, aceitar-se, mostrar-se mais inteiro e em equilíbrio.”
11- “Quando escuto, atentamente, meu cliente (psicótico ou não), sem me preocupar com diagnósticos, julgamentos morais, éticos ou outros de qualquer natureza; quando estou ali, com ele, o mais “presente” possível, sendo eu, do modo como sou (sem me esconder atrás de máscaras profissionais), ocorre, então, um “fenômeno” muito significativo: o outro se arrisca a mostrar-se como ele, de fato, é.”
12- “Nesse mostrar-se, há algo novo que é a possibilidade de ele ir além da percepção, que até então tinha de si. Em outras palavras, começa “realmente” a se conhecer e a se compreender, e, possivelmente, em decorrência desses dois fatores – conhecimento e compreensão – inicie um processo de aceitação de si, de ampliação de sua imagem, de seu eu, de sua pessoa.”
13- “Essa ampliação gera mudanças no seu modo de ser, de se ver, de ver os demais e de ver a própria realidade, na qual vive, muitas vezes distorcida pela visão ‘equivocada’ que possui dela.”
14- “Costumo dizer que, para se trabalhar com psicóticos, ou com outros transtornos mentais graves, precisamos conhecer bem o caminho de volta e saber que a fronteira entre os dois lados não existe concretamente. Precisamos aceitar a ‘loucura’ do paciente para que ele possa aceitá-la também. Só assim ele poderá optar – se quiser ou puder – pela ‘não loucura’, ou por um universo intermediário. As ideias que norteiam as propostas da ACP, no meu modo de ver, são muito eficazes para que se possa ter tranquilidade e segurança suficientes, para empreendermos essa ‘viagem’ emocionante, humana, que é a terapia do paciente psiquiátrico.”
15- “Sempre que trabalho com um paciente muito desestruturado considero importante que o atendimento seja em equipe. Esse grupo multiprofissional deve ser composto, no mínimo, por um clínico, um psiquiatra e o psicoterapeuta.
É sempre importante que o paciente esteja bem medicado e que seu quadro clínico não seja descuidado.
Psicoterapia não entra em choque com outros atendimentos. Faz parte do suporte global que uma pessoa precisa receber, principalmente quando é acometida por um distúrbio mais severo.”