RECADASTRAMENTO DOS INATIVOS DO RJ
UMA MANHÃ NO DETRAN (Segunda temporada)
JLBelas
21 de julho de 2006
Em março deste ano, escrevi sobre o mesmo tema e esperava que ele fosse o primeiro e último da série, mas, como está na moda, ele foi apenas um capítulo da “primeira temporada”.
No dia 17 de julho, segunda-feira, recebi uma ligação do DETRAN, às 7h30min. Reconheci a voz: era daquela senhora que me atendeu (lembra-se?) e que na hora de terminar as anotações do meu processo disse-me: o sistema caiu!…
É, o que senti foi exatamente uma sensação semelhante ao que é sugerido no filme O Retorno de Jedi. A guerra vai continuar! Pensei eu, com certo calafrio passando pela espinha.
O que ela me falou ao telefone?
– O seu processo caiu em exigência por causa das suas impressões digitais.
Fiquei preocupado! Será que elas mudaram com a minha idade? Agora ferrou! Como vou provar, mais uma vez, que eu sou eu, que eu existo, se nem as minhas digitais me estão ajudando mais?
Ela completou, dizendo a frase que eu não gostaria mais de ouvir:
– O senhor poderá comparecer ao nosso posto – a partir das 7 da manhã – e dirigir-se à pessoa que entrega as carteiras, explicando o que houve: as digitais….
Nessa hora, não deu para esconder a expressão de terror que se apoderou do meu rosto, até então, plácido por haver recém–despertado de um reparador sono, após um domingo divino, sereno…
No dia 21 de julho, aproveitando a minha sexta-feira livre, disse para mim mesmo que parasse de fantasiar “monstros detrânicos” e comparecesse ao tal posto de identificação.
Tenho que confessar que ainda não havia superado o trauma de abril e que, por isso, meu coração ficou um pouco irrequieto, quando me fui aproximando do prédio onde funciona aquele órgão. Nada que me fizesse pensar que estava tendo um enfarto. Mas a sensação era desconfortável.
Aí, cheguei lá e fui entrando pelo caminho que estava gravado em minha boa memória, desde abril. Imediatamente, vi um braço peludo erguido horizontalmente na altura do meu peito e uma voz de baixo-cantante estrondou junto ao meu ouvido.
– Onde o Sr. vai??
Imaginei logo que havia cometido um terrível erro, daqueles que, sem dar chance ao infrator, nos leva a uma condenação sumária, por crime hediondo, ou coisa assim.
Parei, meio assustado com a “impositividade” daquela voz de comando, quase militar, e “humildemente” declarei-me inocente, e expliquei que queria apenas completar o meu processo que caíra em exigência, etc., etc.
– Estamos em obras! Afirmou categoricamente o funcionário. E, com um ar meio irritado e braço em riste, disse-me: dirija-se àquela sala ali !!!
– Havia uma fila! Senhoras, mulheres com crianças, e pensei, cá com meus botões, “tudo de novo !!!!” Mas até que – felizmente – a fila andou rapidinho e, de cara, vi algumas pessoas que me atenderam em abril.
Senti como se eu estivesse “em casa”. Tudo me era “terrivelmente familiar”.
Bem, mas aí começou, realmente o capítulo dois desta história. A mocinha a quem me dirigi entendeu, de cara, o que eu estava fazendo lá e, com agilidade, dirigiu-se para a sala ao lado, mexeu em alguns arquivos e trouxe com ela um simpático envelope pardo, pequeno, bem dobrado, como disse, simpático. Não tenho outra palavra para defini-lo. Ali dentro dele, estava eu, certamente: meus dados, as informações colhidas em março e uma ficha na qual deveria colocar minhas imprescindíveis digitais, a fim de provar, definitivamente, que “eu existo” mesmo.
Pois é. Ela pegou o envelope, manuseou um livrão grosso, desses de capa dura, preta, com milhares de rubricas e nomes, tipo protocolo de recebimento e, com ar de assustada, falou com o colega ao lado: Ih! Vai dar pra fazer isso hoje?!
– GELEI. De novo, NÃO!
Era o Retorno de Jedi, certamente. A guerra declarada diante de meus olhos.
Aí eu ouvi o seguinte:
Senhor, infelizmente o que precisa ser feito em seu processo depende do computador. Acontece que estamos em obras e, no momento, é impossível atendê-lo. O Sr. gostaria de retornar hoje à tarde?
Nesse instante, uma voz, por trás de um arquivo de aço, nessa mesma sala, fez-se ouvir.
– É melhor pedir para ele vir na segunda-feira. Não sei se vai dar para hoje!
Quem leu a primeira parte desta história pode imaginar o que aconteceu comigo depois desta manhã ensolarada de inverno. Fui para minha casa, sentindo que uma nuvem negra caminhava sobre a minha cabeça. Certamente aquele drama ainda não havia terminado.
Tudo – naquele órgão do serviço publico do nosso Estado – continuava da mesma forma. O cenário era o mesmo, com exceção da obra, que, ali, estava em andamento e que, agora, era o que me impedia de completar o meu processo.
Interessante é que ela, a obra, aconteceu, muito a calhar, por pura coincidência, às vésperas das eleições municipais.
Cala-te boca!!
Será que haverá uma Terceira Temporada desta série RECADASTRAMENTO DOS INATIVOS DO RJ (ou Uma Manhã no Detran-RJ)?
Tudo indica que sim.
Aguardem!!!!