CONCEITOS BÁSICOS SOBRE A ARTE BONSAI
J.L.Belas
Maio de 2005
Material teórico contido na apostila fornecida nos nossos “minicursos”
1- O que significa bonsai?
“Bonsai significa o cultivo, o trato, o cuidado de uma árvore plantada em uma bandeja”1.
2- De onde vem essa arte, sua origem?
Há muitas informações contraditórias nos livros e nas revistas especializadas em bonsai, mas a maioria dos estudiosos sobre essa arte afirma que ela surgiu na China. “Foi na época dos Tsin (séc. III A.C.), na China, que surgiram os primeiros indícios da arte do bonsai”2.
Encontrei uma informação numa revista atual em que se afirma que sua origem é a Índia:
O bonsai, ou melhor dizendo, a técnica do cultivo de árvores em bandeja (“Vaamantanu Vrikshaadi Vidya“: Vaaman = anão pequeno; Tanu = corpo; Vrikshaadi = das árvores; Vidya = ciência) foi criada, inventada, praticada e transmitida ao mundo oriental pelos antigos indianos, assim como a medicina, a física, a matemática, a geometria, a filosofia, a teosofia e quase todas as artes, incluindo as marciais… Os indianos praticavam ou faziam Bonsai por diferentes motivos, além da contemplação e da arte. Eles praticavam a medicina Ayur Vedica, onde as cinco partes mais importantes para a cura das enfermidades eram encontradas nas raízes, na casca, nas folhas, nas flores e nos frutos. Devido às enormes distâncias que esses médicos tinham que percorrer e à impossibilidade de carregar um Banyan ou um Tamarindo nas costas, os indianos reduziram as gigantescas árvores medicinais, tornando possível o transporte delas em caravanas, o que garantia medicamentos frescos para seus pacientes.3
3- Princípios básicos sobre a “construção de um bonsai”
A construção de um bonsai parte de algumas ideias básicas e vamos dividi-las, aqui, em dois temas gerais: “Aspectos da filosofia que norteia essa arte” e “Sugestões básicas para a construção de um bonsai”.
3.1- Aspectos da filosofia que norteia essa Arte
Há uma filosofia na base da prática do bonsai. Sem maiores aprofundamentos, seria interessante se soubéssemos que:
O Bonsai começou numa época em que os chineses acreditavam que a montanha era o ponto de encontro do homem com os deuses. Então, as pessoas procuravam ter em casa algo que representasse a vida que havia nas montanhas. Foi aí que começou o p’en-tsai, ou bonsai, como se chama hoje em dia.
Quando a arte bonsai entrou no Japão, ela estava dentro da linha de prática do zen-budismo… o ‘bonsai-do’ estava mais para o lado masculino, porque eram os samurais que praticavam a arte. Eles se dedicavam ao bonsai para fortalecer o aspeto ‘Mu-Shin’ ou ‘Wu-Sin’ (chinês) – que significa sem pensamento – cujo objetivo é transformar uma atividade em não ação… A palavra dô significa caminho, via. Explicando melhor, é um caminho que leva o indivíduo a si mesmo. No caso do bonsai, ele é uma via que nos leva à prática da busca do auto-conhecimento1.
Relação entre zen-budismo e bonsai
Na China, existiam o taoísmo e o budismo vindo da Índia, muito tempo atrás. Com a chegada de Bodidarma na China, houve uma fusão entre praticantes do taoísmo e do budismo. Foi aí que se formou o zen-budismo, que se baseia na prática que estimula a observação dos pensamentos ou do movimento cerebral. Lavar louça ou cultivar uma árvore numa bandeja, observando o pensamento, são exemplos disso. Esta é a mesma prática que você tenta fazer no bonsai1.
Uma árvore pequena
Os taoístas acreditam na possibilidade da vida eterna. Eles acreditam que, quanto mais energia uma pessoa poupar, mais tempo ele poderá viver. Através de exercícios de ioga, eles conseguem, sem prejuízo para o organismo, diminuir as batidas do coração, a pulsação, a passagem do sangue. Acreditam que dessa forma estão poupando energia. Essa prática taoísta era realizada com cachorros, gatos, ou quaisquer outros bichos. Eles pegavam o animal e tentavam diminuir sua atividade, para ver aquele que vivia mais tempo. A ideia de poupar energia de pessoas e animais para prolongar a vida também era aplicada às plantas. Cada vez que nascia um novo broto, os taoístas o tiravam para poupar a planta de desgaste. Quando nascia uma flor, tiravam a flor para não desgastar a planta. Aí, a planta continuava o seu processo de envelhecimento, mas ficava pequena, ficava uma planta baixinha. Apesar de não crescer no tamanho, essa planta adquiria, no decorrer natural do tempo, características de velhice no tronco, na casca, no desenho. Os taoístas faziam isso com o intuito que a planta também chegasse a viver duzentos, trezentos anos1.
Benefícios que a prática da arte bonsai pode trazer
O benefício do bonsai está no fato de ele conduzir a pessoa à observação do pensamento, como também à observação do todo. Como qualquer tipo de arte bem praticada, falando basicamente sobre as artes orientais, o bonsai leva o indivíduo ao auto-conhecimento, ajudando-o a entender como funciona sua mente, como está dirigindo seu pensamento. O pensamento só acontece no futuro ou no passado, não no momento presente. O objetivo é exatamente viver no presente1.
3.2 – “Sugestões Básicas para a Construção de um Bonsai“
Os bonsaístas tradicionais seguem as “regras básicas” e as consideram fundamentais para a correta construção de seu bonsai. Outros, que denominarei aqui de “não tradicionais”, não veem o mesmo significado nelas e valorizam mais o resultado visual do trabalho realizado.
Por exemplo, vejamos algumas “regras básicas:
· A largura do tronco, na base de uma árvore, tem que ser igual ou maior do que a
altura da bandeja;
· O comprimento da bandeja tem que ser igual a dois terços da altura da planta;
· É ideal que a altura da planta seja seis vezes a largura da base;
· Considera-se defeituoso um bonsai em que o primeiro galho aponta para a frente;
· Salvo alguns estilos muito específicos, na maior parte dos casos o bonsai tem que
ser triangular.
Nosso trabalho, no Quintal, apresenta uma certa mistura entre seguir as Regras Básicas Tradicionais e Um Estilo mais Livre de se construir bonsai.
Temos dado mais atenção ao resultado estético, visual, do que à observância das regras tradicionais, embora reconheçamos o quanto elas, se seguidas atentamente, e com maestria, produzem resultados profundamente estéticos. Certamente, não nos sentimos, ainda, preparados para realizar obras semelhantes às dos grandes Mestres. Um dia, quem sabe, a gente chegará lá.
3.2.1 – A escolha de uma muda
Sempre que estou conversando sobre bonsai, invariavelmente, alguém surge com a pergunta: “É possível fazer um bonsai a partir da muda de qualquer planta?” Essa pergunta é pertinente, pois, em princípio, qualquer planta pode ser reduzida em seu tamanho, bastando, para isso, que se observem alguns detalhes no seu cultivo. Entretanto, quando se fala de bonsai, há alguns aspectos que não podem ser perdidos de vista. Entre eles está a importância que o “equilíbrio” e que a “harmonia” têm nessa arte.
Basta que se pense num bonsai feito a partir de uma muda de jaqueira ou de amendoeira, por exemplo, para que se perceba que o tamanho das folhas dessas plantas é muito grande e isso afetaria o visual de nosso bonsai.
O fruto de uma jaqueira é, teoricamente, maior do que um bonsai pequeno.
A harmonia e o equilíbrio do bonsai, construído a partir dessa planta, ficariam completamente comprometidos. Por isso, quando você selecionar uma muda para começar a fazer o seu bonsai, não se esqueça de levar em consideração o tamanho da fruta (se for árvore frutífera, é claro), o tamanho das folhas e o tamanho das flores da planta escolhida.
Outro aspecto importante refere-se ao tamanho do bonsai que se pretenda construir. Imaginemos que se queira fazer um bonsai míni (entre 5 e 15 centímetros), ou um clássico (entre 15 e 60 centímetros), ou um grande (entre 60 e 120 centímetros), nesse caso, a muda poderá ser de uma espécie com características bem diferentes umas das outras.
Uma serissa serve para fazer bonsai míni, clássico ou até grande. Uma muda de laranjeira, certamente não servirá para se fazer um minibonsai. Embora eu já tenha visto muitas plantas miniaturizadas, que receberam o título de bonsai, os bonsaístas mais rigorosos, nos seus critérios de classificação e conceituação do que vem a ser um bonsai, só aceitam como verdadeiros bonsai os construídos ou cultivados a partir de árvores. Eles dão o nome de “bonsai arquitetura” àquelas plantas pequenas, parecidas com um bonsai, construídas com outros tipos de vegetais.
As mudas com as quais estamos trabalhando, aqui no Quintal, são de: pitanga, bougainvíllea (primavera), ixória, serissa, fícus (rajado e verde), ipê, buxinho, jasmim, azaleia, cerejeira do Rio Grande, jabuticaba, pingo de ouro, aroeira, etc.
As mudas de bougainvíllea (primaveras) são as que mais possuímos, por termos, aqui, muitas matrizes (bougainvílleas antigas) de troncos grossos, com mais de 20 anos de idade.
Temos conseguido fazer mudas a partir de estacas de troncos com mais de seis centímetros de diâmetro. Vale dizer que as mudas dessa espécie não conseguem engrossar o tronco, uma vez plantadas num vaso de bonsai. Por isso é importante que a plantemos nele quando o tronco já estiver numa grossura desejável para o projeto que estamos querendo realizar.
Há algumas pessoas que preferem fazer suas mudas a partir de sementes. Isso é possível, mas o tempo necessário, até que a planta cresça e tome forma e aspecto de envelhecimento é, para muitas espécies, muito longo. Por isso, há certas vantagens em se fazer o trabalho a partir de mudas já bem desenvolvidas e que já possuam uma estrutura de galhos e tronco que favoreçam sua transformação mais rápida num bonsai: coisas de nossa época e da vida que todos nós levamos, em que tudo preferentemente tem que acontecer com maior rapidez. Por causa disso, algumas pessoas mais questionadoras chegam a indagar se um bonsai construído a partir de uma estaca, ou uma planta já bastante desenvolvida, poderia ser chamada, realmente, de bonsai. Bem… Isso é uma questão a ser discutida, talvez numa outra oportunidade.
3.2.2 – A escolha de um vaso (provisório, definitivo…)
Como já mencionamos, quando falamos das “regras” para a construção do bonsai, nem sempre basta que tenhamos um vaso para plantar nossa árvore. Um belo vaso pode ser o pior para a nossa bonita planta. Um belo vaso sempre será aquele que estiver em harmonia com nosso bonsai. Ele pode ser mais fundo, mais raso, mais largo, mais “feio”… mas… precisa estar em equilíbrio com a arte final.
Há pessoas que compram o bonsai pela beleza do vaso. Há outras que perdem a oportunidade de comprar um bonito bonsai, porque ele está plantado num vaso feio ou inadequado. Por isso, é importante que nós, antes de escolhermos o vaso, possamos imaginar se ele é adequado ao projeto que temos em mente.
Um outro aspecto é que, embora num workshop como o nosso, se tivermos um vaso para trabalhar com uma muda, ele não é forçosamente o desejável para o futuro dessa nossa planta. O vaso e a muda que estamos fornecendo servem, aqui,tão somente para uma prática de lidar com esse material: sua preparação, poda, dreno, etc. Nem sempre a gente coloca um bonsai em construção num vaso definitivo. Geralmente o colocamos num vaso comum, num vaso de treinamento, pois isso facilita o nosso trabalho de preparação de sua forma final, o que se obtém, muitas vezes, através da utilização de técnicas de aramação, de âncoras com fios de nylon, etc. É costumeiro que se trabalhe a planta num vaso comum e só depois, quando o bonsai já está desenvolvido, “formatado”, é que o passamos para o vaso definitivo.
Há vasos de cimento, de louça, de argila, de plástico… Temos utilizado todos. Cada um deles pode ser apropriado para certas espécies e para determinadas etapas do nosso trabalho. Voltaremos a este assunto mais adiante.
3.2.3 – Ferramentas, outros instrumentos e materiais básicos
É desejável que a pessoa que vá construir um bonsai disponha de ferramentas para a realização mais fácil do seu trabalho.
A lista mínima pode ser a seguinte:
– uma tesoura para poda de galhos;
– uma tesoura para poda de raízes;
– um alicate de corte lateral;
– um alicate para cortar arame;
– um pequeno serrote ou serra tico-tico;
– uma pinça;
– rastelo ou vareta para limpar e soltar as raízes.
Necessitará também de outros materiais, tais como:
– arames de cobre ou alumínio, de várias grossuras;
– tela para a drenagem do vaso;
– hashi (ou espetinhos para churrasco) para assentar a planta no vaso;
– pasta cicatrizante (ou pasta de dente, ou graxa de polir sapatos, ou pomada
Hipoglos).
Mas, se a pessoa não dispuser disso tudo, ela, com alguma criatividade e habilidade, conseguirá resolver a questão com uma boa tesoura de poda, pasta cicatrizante, arame e alicate comum.
3.2.4 – A preparação do vaso (tela, grampos…)
Uma vez escolhido o vaso, precisamos prepará-lo, ou seja, colocar nele um dreno, feito, preferentemente, com uma tela de nylon a ser fixada no furo do fundo do vaso. Essa tela deverá ser fixada com arame de cobre. Isso é feito para que, ao colocarmos a terra e a muda, essa tela não se desloque do furo do vaso. Se isso acontecer a terra escoará por ali e…
Há uma técnica que se utiliza para fazer essa fixação. Nós a ensinaremos durante o nosso encontro.
Quando utilizamos vasos feitos de cimento, além de prendermos a tela, é bom que, antes disso, o coloquemos dentro de um tanque ou recipiente com água suficiente para cobri-lo. Costuma-se fazer isso para que se retire o excesso de pó do cimento, que costuma permanecer nesse objeto, evitando, assim, interferência dessa substância na composição da terra onde será plantado nosso bonsai.
3.2.5 – A preparação da terra
- a) A composição da terra
A mistura ou composição da terra, onde plantaremos nosso bonsai, é fundamental para o seu desenvolvimento. Uma mistura nunca deve ter menos de 50% de areia ou pequenas pedrinhas (de 1a 2 milímetros);
Os outros 50% devem ser divididos entre dois elementos:
1- compostos orgânicos – usa-se um percentual maior de compostos orgânicos do que de argila, se a terra for para uma planta que se desenvolva em solo de composição ácida;
2 – argila – usa-se um percentual maior de argila, do que de compostos orgânicos, se a terra for para uma planta que cresça em solo de composição alcalina. Por exemplo, a azaleia necessita de uma mistura ácida (húmus ou terra preta). Já os pinheiros só requerem pouca quantidade de terra preta, ou húmus, já que necessitam de uma mistura basicamente alcalina (areia e argila). Nesse caso, o húmus ou a terra preta, em pequena quantidade, tem a função de apenas manter o equilíbrio de micro e macro-organismos. Ao se utilizar o húmus, devemos peneirá-lo bastante para eliminar sementes de gramíneas, que costumam estar presentes nele. Ao se utilizar a argila, seria bom se a usássemos sob a forma de akadama (pequenas bolinhas de argila cozidas).
- b) Alguns elementos da composição da terra
b.1- Areia
A areia que usamos pode ser a de rio, dessas que se usam em construção de casas, ou areia de filtro de piscina. O importante é que a gente passe a areia numa peneira, de modo que se obtenham, apenas, os grãos maiores, com tamanho mínimo de 1 milímetro e máximo de cerca de 3 milímetros. A mais fina é desprezada. A mais grossa (acima de 3 mm) é utilizada para colocar sobre a superfície do vaso, onde acabamos de plantar nosso bonsai. Essas pedrinhas maiores, colocadas na superfície, ajudam a proteger a terra quando a regamos, evitando que ela saia do vaso.
b.2 – Terra preta
Costumamos peneirar a terra preta e retirar pequenos torrões dela para misturar à areia.
b.3 – Bolinhas de barro
Molhamos o barro (borrifamos água sobre o barro fino) e passamos esta mistura numa peneira, como se fôssemos peneirá-lo. Ao fazer isso, formam-se, dentro da peneira, inúmeras bolinhas nessa mistura. Pegamos essas bolinhas e as levamos ao forno para assá-las. Secas, serão utilizadas na preparação da terra que usaremos.
b.4 – Adubos químicos
No inverno, usamos esse tipo de adubo uma vez por mês, ou menos, dependendo da planta e de acordo com o fabricante. É importante que se use adubagem, principalmente se notarmos que a planta se está desenvolvendo muito lentamente em relação às outras da sua espécie.
b.5 – Esfagno
Alguns bonsaístas recomendam que se use esse material, quando se tratar de plantas que produzem flores e frutos. Destina-se a reter mais a umidade do solo.
3.2.6 – Preparando a muda: poda das raízes, poda dos galhos…
Bem… Escolhemos a muda, preparamos o vaso, preparamos a terra… E agora?
Está na hora de prepararmos a muda com todo cuidado, pois é um momento bastante importante para o futuro de nossa planta. É recomendável que, o mais rápido possível, se faça o processo de replantio de nosso bonsai, ou seja, que o tempo de tirá-lo do vaso comum e colocá-lo no vaso de bonsai seja curto. Isso é importante para que as raízes não ressequem, não morram. Mas… vamos com calma, pois não precisamos ficar muito preocupados com isso, principalmente se não esquecermos a muda no sol ou no vento forte. OK?
Primeiramente, a copa deve ser aparada ou até podada fortemente, se for o caso.
Podemos e até recomendamos fazer isso antes de se retirar a muda do vaso onde ela se desenvolveu.
O fato de ela estar mais enraizada e fixada na terra favorece mexermos na copa e no tronco, sem abalar as raízes mais delicadas, que são muito importantes para o bom desenvolvimento do nosso bonsai.
Devemos observar, com muita atenção, a muda que será envasada, percebendo suas formas sob vários ângulos, girando-a no torno, assim será mais seguro podarmos os seus galhos com maior precisão. Alguns deles poderão ser retirados para que a forma do bonsai fique mais harmônica, ou para que, em breve, com a brotação, a planta ganhe uma estrutura mais equilibrada.
Tudo dependerá do nosso projeto para ela.
Uma vez preparados o tronco e a copa, iniciamos a poda das raízes, pois é muito provável que elas estejam bem fartas no vaso onde estiveram até então, principalmente se a mistura da terra com a areia era de grãos pequenos.
A melhor época de realizarmos a poda das raízes é o início da primavera.
A poda será de 30 a 40% das raízes.
Nos pinheiros, cerca de 50%, e nas azaleias, podemos chegar a podar 60% delas. Tudo depende da rapidez do crescimento daquela planta. Se cresce rápido, podemos podar muito, se cresce lentamente, podamos pouco. Quando há poucas raízes finas, é preciso ter cuidado, pois elas é que garantem a parte aérea (folhas, galhos, flores) da planta. As raízes grossas podem ser podadas à vontade, elas basicamente servem apenas de sustentação.
ATENÇÃO!!!
AVISOS MUITO IMPORTANTES
1-Sempre que podarmos galhos ou raízes mais grossas (5mm), precisamos usar a pasta cicatrizante para evitar que fungos maléficos se propaguem e prejudiquem a planta.
2-Depois da poda das raízes, precisamos de aproximadamente 20 dias para que elas se recuperem.
3-Durante 30 a 45 dias, a planta deverá receber apenas uma ou duas horas de sol. Só depois desse tempo, ela poderá ficar diretamente ao sol ou na luminosidade de que precise.
3.2.7 – Envasando a nova planta
Neste workshop, optamos por colocar nossa muda num vaso de treinamento para bonsai, a fim de mostrar como proceder futuramente. Mas é importante dizermos que essa planta, colocada nesse ambiente, não poderá ser denominada, ainda, realmente, de um bonsai, mas sim, de um pré-bonsai. Trata-se somente de um projeto, ainda em desenvolvimento, sem estrutura radicular e copa definidas.
O mais comum é, antes de colocar a planta no vaso definitivo, ela já ter ficado cerca de 2 ou 3 anos se preparando: podada uma 1ª e uma 2ª vez.
A colocação no vaso definitivo, provavelmente, acontecerá três ou quatro anos após sucessivas podas de suas raízes.
Nossa planta está podada, o vaso preparado, a mistura feita. Chegou o momento de colocá-la no vaso. Dependendo da altura do tronco, da profundidade do vaso e de outras condições, talvez precisemos de um arame para apoiar e fixar esta nossa planta na posição desejada. Esse arame é preso no de fixação da tela do dreno… A terra a ser colocada no novo vaso precisa ser bem distribuída sob a planta e, para isso, usamos o hachi, para empurrar e distribuir bem a terra entre a base da raiz e o vaso. Uma vez colocada a planta, e fixada no vaso, devemos mergulhá-lo num tanque com água para que toda a terra fique bem umedecida e o excesso da água escorra pelo dreno. Feito isso, colocaremos a planta num lugar apropriado, como já falamos acima, e, durante 45 dias aproximadamente, dar-lhe-emos um tratamento muito especial, cuidando dela como se fosse um “bebê”, até que já esteja forte o suficiente para ficar junto com as outras, no sol…
3.2.8 – As Regas e o Sol
Devem ser feitas a partir de uma observação da nossa planta.
Ela deverá fornecer os dados para que possamos regá-la.
Em princípio, devemos manter a terra úmida, não encharcada. Caso a terra esteja bem preparada, com a quantidade adequada de areia, não há perigo de regá-la com constância, pois nunca haverá excesso de água.
A quantidade de sol também vai depender da necessidade do tipo de planta.
Algumas querem muito sol, outras, muita claridade e pouco sol… enfim….
3.2.9 – Pragas, inseticidas…
Vigiar a planta, verificar se surgiram bichinhos, pulgões e outros inimigos do nosso bonsai. Caso surja isso, temos vários procedimentos possíveis, sendo que o uso de inseticidas deve ocorrer de modo correto, para evitar que se utilizem produtos indevidos. O mais comum a se usar é a calda bordalesa, ou outros produtos semelhantes, que se conseguem em qualquer casa de produtos agropecuários. Usamos, também, o chá de fumo de rolo, de fabricação caseira. Eventualmente, fazemos uma mistura desses dois produtos e acrescentamos gotas de óleo mineral, que age como fixador desses produtos na planta.
3.2.10 – Mudando o vaso depois de algum tempo
Seu bonsai (ou pré-bonsai ) já está no vaso. Você já está cuidando dele. Observa o seu crescimento. Vigia sua saúde (fungos, pragas, folhas murchas, folhas foscas, formigas, outros bichinhos…). Vai tudo bem?! Que bom! Ele está bonito, cresceu… Passado um ano, as raízes podem estar saindo pelo dreno ou por cima do vaso. Se isso ocorrer, é bom trocar o vaso, podar as raízes… mudar a terra… Senão, aguarde mais um pouco. Talvez mais um ano, ou menos… No máximo 2 anos.
E, então, mesmo não estando acontecendo o que falei acima, troque de terra, fazendo tudo o que explicamos nos itens anteriores.
3.2.11- O “CTI” do bonsai
Quando tudo vai mal com o bonsai, que azar! A coisa não vai bem. O seu bonsai vai mal, parece que está morrendo. O que fazer?
Uma coisa que se tem mostrado eficiente, quando isso acontece, é fazer um “regime” para a doente. Algo muito leve que não exija nenhum esforço dela. Trata-se do seguinte: pegamos uma peneira e colocamos nela areia pura. Somente areia. Tiramos a planta adoentada e a “plantamos nessa areia”. Colocamos esse bonsai doente na sombra, num lugar bem iluminado, aquecido (mas não no sol) e molhamos essa areia diariamente ou com menos frequência, dependendo do clima. Aí, é só aguardar. Parece milagre! Na maioria absoluta das vezes, há uma recuperação total. Mas é bom que se diga que não devemos esperar demais para usar este recurso, que muitos bonsaístas chamam de CTI, pois, se a planta passar do momento de ir para lá, não vai conseguir salvar-se.
CONSIDERAÇÕES SOBRE NÓS E O NOSSO BONSAI
Ou a relação bonsaísta-bonsai
Ao desenvolvermos este projeto (Bonsai do Quintal), surgiram algumas indagações interessantes e, agora, gostaria de dividir com você o que andei pensando a respeito delas.
As plantas me atraem.
Seu silêncio, sua quietude, seu movimento lento, mas persistente, sua alegria, sua energia, sua tristeza, seu sofrimento… Sua linguagem clara que nos anuncia o quanto estamos cuidando delas, o quanto elas são dependentes de nós e o quanto reconhecem nosso esforço para ajudá-las a crescerem fortes e sadias e o quanto demonstram isso gratificando-nos com belas folhagens, frutos, raízes, ramos, flores, troncos e galhos, esteticamente distribuídos no espaço. Um ser silencioso, atento, em harmonia com o resto do planeta. Um ser que nos ensina a virtude da paciência, da obediência sensata e sábia. Um ser que trabalha persistentemente na busca de seu alimento. Um ser que alivia nossas tensões, que acalma nosso estresse, que pede pouco e nos dá tanta coisa.
Ah!… As plantas!…
Mas… Isso é o que EU penso!
Será que outras pessoas pensam assim como eu? Ou diferente de mim?
O que levaria uma pessoa a se interessar pelo cultivo de plantas e, em especial, do bonsai?
Imagino que para muitas pessoas a primeira coisa que as movimenta nessa direção é a curiosidade. O que é isso a que se dá o nome de bonsai? É apenas uma árvore anã? É algum tipo de semente especial, cujo resultado final é uma planta miudinha?
Imagino também que muitas outras se interessariam pelo bonsai, por considerar essa planta muito “bonitinha”, “diferente”, “chique”, “da moda”, “cara”…
Na verdade, a lista de motivos que poderiam levar uma pessoa a se interessar por bonsai é muitíssimo grande e, para se perceber isso, basta que fiquemos atentos às perguntas que as pessoas fazem durante uma palestra sobre este tema.
Neste momento, estou interessado em saber O QUE VOCÊ PENSA A RESPEITO.
O que o(a) levou a se interessar por esta arte?
O que a(o) leva a se interessar por esta planta?
Como é a sua relação com plantas em geral?
Gosta delas? “Conversa” com elas?
Sente algo especial, quando está diante de uma planta que se destaca pela beleza da forma, da cor, do estilo? Preocupa-se quando a vê “sofrendo”?
Você consegue ” colocar-se no lugar dela”?
O que você espera obter, tendo um bonsai seu?
Terá paciência para acompanhar seu crescimento, seu desenvolvimento?
Desejará poder orgulhar-se, ao dizer: este é o MEU BONSAI!
Veja como eu cuidei bem dele! Veja como ele é bonito!
Você já pensou que uma planta precisa de nossa dedicação, atenção, carinho…
Você quer dedicar-se a seu bonsai e lhe dar atenção e carinho?
Se quer, certamente ele reconhecerá o seu esforço, porque ele, como as plantas em geral, é honesto, sincero…
Existem algumas questões práticas sobre as quais acho que seria interessante pensarmos juntos: Nos momentos difíceis… o que fazer? Eles existem, os tais “momentos difíceis”.
Todo ser vivo está exposto às condições ambientais, às mudanças que acontecem no meio onde vive. Doenças, vírus, pragas, insetos, infecções… Água em excesso, ou falta dela. Uma insolação, uma desidratação, um mal-estar, causado por excesso de alimento (uma indigestão).
É muito importante que cada um de nós, que se interessa por planta, ou por um tipo de planta transformada em bonsai, saiba que estar atento à saúde e ao bem-estar desse ser vegetal é importantíssimo.
Cuidar dela com atenção, carinho, desvelo… é, muitas vezes, a única forma de salvá-la de uma enfermidade fatal. Tal como na nossa vida, os momentos difíceis, que surgem quando cuidamos de nosso bonsai, precisam ser enfrentados para se encontrarem soluções para eles.
Quando você faz um projeto, ou seja, quando você tenta antever o que o seu bonsai será daqui a alguns anos, é preciso que fique bastante claro que, como todo projeto, nem sempre você conseguirá realizá-lo exatamente como o idealizou, pois ele, do mesmo modo que os demais, fica à mercê de uma infinidade de fatores que poderão alterar a proposta inicial. A vida nos ensina isso.
No meu modo de ver, isso, essa “frustração” é uma experiência altamente pedagógica. É um dos maiores ensinamentos (entre tantos outros) que a arte do bonsai nos proporciona. É como na vida: você projeta seu futuro, mas nem sempre ele acontece do modo esperado. Mas o que fazer então? Desistir? Lutar? Deixar-se morrer? Vencer a morte? Aceitar a doença? Insistir na busca da saúde?
Ao praticarmos a arte do bonsai, estamos, a cada instante, deparando-nos com essas questões. Isso é o nosso constante desafio: manter saudável, forte, bonita a nossa planta. Se aprendermos isso, se fizermos bem isso, teremos uma boa chance de manter a nossa vida também saudável, forte, bonita (feliz).
O mais interessante a ser lembrado é que, embora o que falei acima possa soar como uma dedicação exagerada ao seu bonsai, esse cuidado precisa ser seguido de uma outra sabedoria, que se caracteriza pela vontade de não interferir na vida do outro, além do necessário ao bem-estar dele.
A definição do “bem-estar dele” pode ser obtida através do que percebemos em seu desenvolvimento, sua beleza, sua aparência de “felicidade”.
Quero dizer, com isso, que não precisamos ficar preocupados em fazer pelo nosso bonsai o que ele próprio poderá fazer por si mesmo.
Talvez ele não possa retorcer tanto um dos seus galhos (o que o faria ficar bem mais bonito), então, nós o ajudamos a fazer isso, acentuando sua própria forma.
Em outros momentos, ele não conseguiria eliminar um ramo que o prejudica, amarrotando folhas e flores que se colocam no seu caminho. Nesse momento, nós podamos este ramo…
Enfim, somos ajudantes. Somente isso. O resto fica por conta da natureza. Ela sabe muito mais do que nós o que é melhor para o nosso bonsai.
Precisamos, sim, é “ouvir”, o mais atentamente possível, o que ele (o nosso bonsai) nos diz e tentar ajudá-lo a ser o melhor dele mesmo.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 – O mundo do Bonsai – Ano I , no 1 – São Paulo: On Line Editora, 1997.
2 – Bonsai – Ano I, no – São Paulo: Ed. Canaã – Série Verde Vida, 1998.
3 – Atelier do Bonsai – Ano 2, no 4 – Rio de Janeiro: Editora Sester & Miller, 1998.
SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS
a- Todas as revistas da coleção O mundo do bonsai – São Paulo: On Line Editora.
b- Todas as revistas da coleção Atelier do Bonsai Rio de Janeiro: Editora Sester & Miller.
c- Todas as revistas da coleção O Universo do Bonsai – São Paulo: Ed. On Line.
d- Coleção Bonsai Pasión (Espanha)– Disponível em www.mistralbonsai.com
e- Yoshimura, Y., Halford G. M. The Art of Bonsai – creation, care and enjoyment – Tuttle Publishing –Topkyo *Rutland, Vermont * Singapore – Disponível emwww.tuttlepublishing.com.
f- LEAL, Mário A. G., Paisagem de Bonsai “Uma Arte Chinesa” – São Paulo, Ribeirão Preto: Villimpress C. G.
Disponível em http://www.atelierdobonsai.com.br
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