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J.L.BELAS
Durante muito tempo, achei que falar sozinho era sinal de maluquice, doideira…
Estou mudando de opinião, pois eu, que não me considero um doido típico, tenho andado a falar sozinho.
É interessante constatar isso e pensar a respeito.
O isolamento, o ficar sozinho, tem-me levado a falar alto, comigo mesmo. Como se eu esgotasse, esvaziasse um conteúdo de mim que não deveria ficar aprisionado ali.
Tenho falado sozinho, em alto e em bom som. E tem sido bom!
Falo as coisas que gostaria de falar para alguém que não existe ali, naquele momento. Alguém que poderia me escutar e retrucar, e acrescentar, e cortar, e modificar meu discurso…
E falo, falo e falo… O falar alto, como se para alguém estivesse a falar, dá-me a sensação de não estar sozinho, de que alguém, magicamente, me escuta e plenamente me compreende. Isso é bom!
Não há censura, nem avaliação, apenas escuta.
Tenho falado sozinho na hora da janta, quando somos eu, meu prato, minha taça com vinho, meu copo com água, meus talheres e mais alguma coisa que, descuidadamente alojou-se diante de mim, sobre a mesa. Geralmente tem sido assim a hora do meu jantar.
Falo, contesto, critico, reclamo, xingo, peço, ouço, quase como um louco a delirar e viver o que não existe, senão dentro de mim mesmo.
Posso entender mais o louco que, através de sua fala, aparentemente insana, consegue expor algo que ninguém seria capaz de compreender.
A sensação que experimento nesses momentos é tão intensa, como se não me restasse mais nada a ser dito e explicado ao mundo.
É como se tivesse confessado todos os meus pecados e recebido o perdão que me salva de um inferno em vida.