RESUMO DO LIVRO O QUE É A VELHICE
Fabio J. M. Belas
NITERÓI – SETEMBRO 2008
O livro O que é a velhice propõe uma reflexão crítica sobre o que, atualmente, é chamado 3ª idade ou maturidade.
Compreendida a partir dos 60 anos, esse segmento de nossa população tem crescido ultimamente, devido às tecnologias advindas desde a modernidade. Atualmente, é fácil imaginar-se vivendo além dos 70 anos de idade, porém, ao longo da história ocidental, esses mesmos 70 anos ocupavam o máximo numa expectativa de vida, e, dificilmente, eram alcançados até meados do século XX.
Quando se é jovem, não consideramos o fato de que iremos envelhecer no processo natural de maturação do corpo com o passar do tempo. Acredita-se no mito da eterna juventude, este valorizado através dos tempos, nas epopéias e nas mitologias universais. A vida eterna e a longevidade foram os fins de atos ou cruzadas heroicas da mitologia grega, pré-cristã e medieval, como, por exemplo, o mito do rei Arthur em busca do cálice de Cristo, que continha a vida eterna.
A velhice, na história, sempre ocupou dois papéis antagônicos, ou representações sociais: ou referia-se à imagem do fim, da morte, do mal e da perda, ou da sabedoria, do conhecimento e do respeito. No entanto, trata-se de um fato natural da vida, tão certo quanto o fim, ao qual todos estamos “destinados”. Se, como dizem os matemáticos, a soma dos fatores não altera o resultado do produto, assim também a meia-idade e a velhice, vividas por cada indivíduo, com sua singularidade, são a premissa do fim que se aproxima e que é inevitável a todos. Um resultado inalterável chamado morte. Portanto, entre as crises da meia-idade, a transposição da fantasia mitológica da eterna juventude para a realidade do fim que se aproxima gera no indivíduo a necessidade de se confrontar com o produto de sua vida, sendo este o legado que deixará, talvez positivo ou incompleto na opinião do sujeito.
Por que é tão comum nos mitos a velhice ser considerada como um flagelo, contrário ao guerreiro protagonista? Principalmente na mitologia grega, os deuses ou heróis eram esculpidos e adorados à imagem dos jovens. Sua força estava nos atributos físicos de sua musculatura, e não na sua divindade exclusivamente. A representação simbólica dos ídolos faz uma associação interessante quanto ao imaginário de jovem e velho na cultura grega: o ídolo Zeus, por exemplo.
Trata-se da imagem de um homem, com a cabeça mais velha e com o corpo musculoso do jovem. Assim, tal deus teria a sabedoria do ancião e a força dos jovens guerreiros. Outro exemplo seria o de Ulisses, da Odisseia, que, apesar de ser guerreiro, era também um homem sábio, ou de Athena, que era filha de Zeus e deusa da sabedoria. Se considerarmos a estimativa de vida da época, na qual aos 40 anos já se era considerado velho, todos esses personagens da mitologia foram esculpidos com a cabeça à semelhança de uma pessoa com idade avançada, mas com o corpo do jovem.
A mitologia, em geral, apresenta o idoso como o identifica Carl Gustav Jung em sua teoria sobre os arquétipos. Em todas as culturas e em todas as cosmogonias mitológicas, a presença do “velho sábio” ou da “grande mãe”, a matriarca, poderá ser encontrada. No entanto, outros arquétipos, como a “sombra”, que representa o mal, serão simbolizados como a perda da virilidade do jovem na imagem do velho, como as bruxas das fábulas infantis ou o aspecto tenebroso dos vilões, nos contos populares.
Envelhecer representava um momento trágico da história do homem na Grécia antiga. Mas, em algumas sociedades patriarcais, como, por exemplo, a dos hebreus, o líder das tribos era o idoso, chefe da família. Aquele dotado do conhecimento da história que deveria ser compartilhada, através da tradição oral, com seu arraial. O Deus dos hebreus ocupava para o universo o mesmo que o patriarca da família ocupava para seus descendentes. Assim, Deus, no Judaísmo e no Cristianismo, assume a expressão de “Pai Celestial”. O Pai dos patriarcas (Abraão, Isaac e Jacó). No caso das mulheres, a idosa não foi muito valorizada na história ou nos mitos. O arquétipo da “grande mãe” nem sempre, ou, talvez quase nunca, era atribuído às mulheres idosas, porque estas não mais poderiam servir para a reprodução.
No caso das viúvas, se não fosse obrigado por lei ou pela imposição doutrinária religiosa, os filhos, com suas esposas e família, não necessitariam de se prestar ao cuidado dessas idosas.
A velhice era motivo de preocupação. Deveria ser tratada com remédios, poções, ervas ou técnicas que levassem à “imortalidade” ou ao rejuvenescimento. Atualmente, a indústria de cosméticos e a ditadura da moda preservam esse imaginário de representações sociais quanto ao envelhecer. Chamar alguém de velho é pejorativo. Ninguém quer ser velho. Aos idosos ou aos de meia-idade a comparação com os jovens é elogio, como se o adiamento da velhice se tornasse uma verdadeira obsessão.
Antigamente, não havia uma contagem populacional que pudesse oferecer dados sobre a quantidade de idosos de ambos os sexos, presentes nas sociedades. Socialmente, poucos e restritos eram os benefícios oferecidos aos idosos pelo Estado. Nesse aspecto, os militares sempre foram privilegiados. Além disso, o idoso só era realmente respeitado enquanto mantivesse a conduta do homem maduro e forte, ou se fosse rico, respeitado mais devido à sua riqueza do que à sua idade. A imagem do idoso também oferecia aos jovens a credibilidade quanto à vida profissional, já que, desde os mitos, tal imagem esteve associada também à sabedoria e à experiência.
Há uma dificuldade quanto a determinar realmente a idade da velhice, pois ela é subjetiva e complexa. Não se trata da idade estipulada segundo a pesquisa da taxa de estimativa de vida da população. O idoso é diferente do velho. Ser velho é um estado que tem como base o autoconceito, e não os anos de vida. O envelhecimento é um processo biopsicossocial. São fatores genéticos, sociais e comportamentais que irão influenciar a velhice. Qualquer indivíduo pode vivenciar a chamada “velhice”, independentemente de sua idade. Basta viver como, pelo senso comum, se espera que um “velho” viva, ou seja, na expectativa da morte. E isso não depende da senescência, nem da senilidade do indivíduo.
O que realmente atrapalha o idoso é o preconceito. Este, outrora pregado na mídia, atualmente é exorcizado. No entanto, esse exorcismo também gera uma imagem prejudicial à 3ª idade.
A imagem do idoso jovem, que busca refúgio num ideal de juventude, também não significa que ele esteja vivenciando o bom envelhecimento. O idoso que busca ser jovem, com atitudes jovens, pode estar-se baseando num recurso de negação, uma defesa quanto à sua real situação. Negar-se como idoso é impossibilitar-se de viver esta etapa natural do desenvolvimento. A nova ética que nos apresenta o livro é o de “saber envelhecer bem”, o que só depende da harmonia entre a atividade e o desengajamento, concepções antagônicas nas teorias gerontológicas. A atividade do idoso influencia seu autoconceito, e o desengajamento lhe possibilita uma adaptação à nova fase de sua vida.
Concluo, assim, este resumo, compreendendo, através do livro, que a maturidade é mais uma etapa da vida, que não deve ser vivenciada como final, ou como expectativa da morte. Ao contrário dos mitos, ser idoso e ser velho são coisas bem diferentes. Quando se consegue vivenciar a vida como um todo, a idade cronológica pouco importa. A experiência, que é a vida, é o que há de mais importante. Aprender e ensinar: dois movimentos que todos devemos realizar até o último momento de nossas vidas.
*MASCARO, Sonia de Amorim: O que é a Velhice – Coleção Primeiros Passos, São Paulo: Ed. Brasiliense, 1998.