O RELACIONAMENTO PROFESSOR/ALUNO
SUA IMPORTÂNCIA NO PROCESSO ENSINO/APRENDIZAGEM
JLBELAS – janeiro de 2020
Gostaria de pensar com vocês sobre alguns temas que, para os professores, são bem conhecidos, mas nem sempre muito explorados.
Para começar, quero lembrar a vocês que os seres humanos se desenvolvem como pessoa a partir de seus relacionamentos com outros seres humanos. Daí a importância da qualidade dos relacionamentos que venham a experienciar.
A qualidade dos relacionamentos está vinculada à nossa capacidade para conhecer, o melhor possível, o mundo interior do outro.
Tal conhecimento ocorrerá mais fácil e plenamente, na dependência da minha habilidade para “escutar” o que ele me diz.
A escuta é um dos elementos fundamentais na construção de um relacionamento humano construtivo , de boa qualidade.
Somente através de uma escuta de qualidade é possível compreendermos o que o outro nos diz e “nos pede”. Esta é uma questão a se pensar.
A escuta de qualidade é importante na educação de crianças, sejam filhos ou alunos.
Os pais e os professores são figuras fundamentais na formação da visão de mundo e da autoimagem da criança. Eles, dependendo da qualidade do relacionamento que estabelecerem com seus filhos, ou alunos, estarão criando condições para que essas crianças se relacionem de determinada forma com o mundo que as cerca e com as pessoas que existem ali.
O lugar, inicialmente ocupado pelos pais, aos poucos é transferido, em grande parte para os professores. Esses profissionais, agora assumem este espaço como “pessoas critério”: aquelas cujas opiniões possuem um poder muito grande , tanto ou maior do que aquele que pais detinham. Daí a importância de o professor compreender o quanto eles são personagens significativos na construção da personalidade de seus alunos.
Seus julgamentos sobre as crianças, sobre os jovens, são sentidos como verdadeiros rótulos que poderão marcá-los para o resto da vida.
No caso do grupo de professores que lidam com jovens e pré-adolescentes, é importante entender a necessidade dos jovens de desafiarem a autoridade do professor como uma forma deles, alunos, firmarem suas opiniões sobre o mundo no qual vivem.
É importante que o professor entenda que o desafio posto pelo aluno, pode até ser um dado de sua educação, ou melhor dizendo, má educação, todavia essa atitude revela um clamor, um pedido de ajuda, de compreensão sobre seu conflito interno na busca do que seria o certo, o errado, o bom , o adequado…. coisa que ele ainda não definiu com precisão dentro de si mesmo.
Muitas vezes o professor recebe um gesto agressivo por parte de seu aluno e, quando esta situação ocorre, caso não esteja preparado para isso, se ofende e revida. Entretanto, o que o aluno busca, na realidade, é a compreensão do que está acontecendo dentro de si mesmo.
Ao cometer tal engano, o professor pensa estar dando a ele um “limite”, o limite que ele não recebeu em casa, ou coisa assim. E, muitas vezes ele não o recebeu, mesmo , esse limite na família, e age como se tivesse todo o direito de agredir, de cobrar do outro o que ele deseja e acredita ser direito seu.
Ocorre, ocasionamente, que o professor reage, ou agredindo de volta, ou se calando.
Nem uma coisa nem outra consegue alcançar o que o jovem quis através dessa ação indesejável para nós, adultos. Não reagir, ser indiferente, ou reagir fortemente contra a ação do aluno, significa não ter , de fato, entendido o que está se passando dentro da cabeça e do “coração” daquele aluno.
Nós conseguimos respeitar as autoridades que reconhecemos como tal. Mas autoridade não é sinônimo de força física, de volume de voz, de cara feia… A autoridade que sentimos no outro vem com reconhecimento de que o outro nos respeita como somos e que , de fato, nos aceita e compreende o que se passa em nosso íntimo. Ouvir atentamente o outro e mostrar nosso interesse por ele, pode ser a chave que abre uma grande porta para que ele me respeite e me admire, se respeite e se admire.
O que escrevi acima, pode parecer o óbvio, mas, como costumo dizer, o óbvio é nossa pedra no sapato: não é nada, é simples, mas , na prática, é um tremendo obstáculo.
Quase sempre, não damos muita atenção ao que é , ou parece obvio e, por isso deixamos de realizar coisas básicas, banais de imenso valor. Ouvir é uma dessas coisas. Todos nós ouvimos, mas com quais ouvidos???
Os jovem gritam para que escutemos sua voz ! E muitas vezes gritamos para que eles parem de gritar.
Tudo bem, dirão vocês, mas não é fácil conviver com certos jovens que reivindicam, segundo a segundo, que os ouçamos. Isso cansa!!!
E eu digo: cansa mesmo.
E vocês completariam: E aí? O que fazer? Não é fácil! Há momentos em que a gente não suporta a pressão deles, seus desaforos e desrespeitos ou até mesmo seus descasos, sua indiferença e desânimo.
E eu responderia a vocês: realmente é difícil suportar.
Entretanto, se pudermos tentar compreender o que está acontecendo com eles, naquele momento, e o mesmo fazermos em relação a nós, provavelmente entenderemos que ser professor, ser educador é muito mais do que dar aula, ensinar um tema… Ser educador é ser uma pessoa que se propõe a ajudar seus alunos a perceber suas atitudes frente à vida estudantil e social (se é que se possa fazer uma separação entre elas).
O professor não deve se negar a ser um Educador. Mais do que ensinar, matemática, geografia, literatura etc., espera-se dele que ele ensine seus alunos a arte de viver. Mas para poder fazer isso, ele mesmo, o professor, precisa, antes, aprender tal ofício.
O professor não substitui pai nem mãe de aluno. Felizmente!!! Mas ele é tão educador quanto eles, e às vezes até mais. O aluno pode reconhecer isso, principalmente quando conseguimos participar, amorosamente, de seu mundo.
Ouso afirmar que o afeto é o que move tudo. Por isso falei, acima, amorosamente. Mas sei também que o afeto move não só o aluno, move também o professor. Se estivermos “azedos” nossa relação será azeda. E não podemos esperar que nosso aluno seja “compreensivo” com nosso azedume. Ele ainda não está preparado para dar. Ainda está na fase de receber. E cabe a nós, por sermos adultos, termos a capacidade maior do que a deles para lhes dar tal afeto e compreensão.
Vocês que estão lendo este texto podem até dizer que eu estou por fora, que estou idealizando uma realidade impossível, que falo isso porque não estou vivendo o que vocês vivem em sala de aula etc., etc…. Tudo bem! Posso compreender se reagirem assim. Todavia, o que tenho aprendido me leva a crer que o que escrevi até aqui reflete grande parte daquilo que ocorre em salas de aula, em grande parte das escolas que conheci. E mais, o que falei acima não significa que eu considere que todos os professores vivenciem situações desastrosas e antipedagógicas a cada instante, nem que eles são despreparados para a função de educadores, nem que considero ser tarefa fácil a da educação. Não. Não se trata de uma crítica aos professores, mas apenas um lembrete : O aluno , mesmo o mais difícil em sala de aula, ou fora dela, não é seu inimigo! Ele espera de você apenas um “ouvido” e um “coração”.
Acontece que algumas vezes estamos com os ouvidos “entupidos” e o coração “bradicárdico .
Somos humanos ! Precisamos reconhecer isso e tentar encontrar os remédios que possam melhorar nosso “estado de saúde”. Melhorando, poderemos nos sentir melhor e criar melhores condições de vida ao nosso redor. Não é?? Os alunos agradecerão e , certamente, aprenderão mais, estarão mais motivados para conhecerem e para usarem o potencial que possuirem em busca de sua autoconstrução.
Na maioria das vezes, a quantidade e a qualidade da aprendizagem, conquistadas por um aluno, caminham em paralelo com a qualidade da relação existente entre ele e seu professor.
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