jlbelas
agosto de 2022
Na casa onde vivi dos 9 aos 29 anos, havia um pomar.
Colhia-se dele laranjas, canas, abóboras, couve, cheiro-verde, alface, tangerinas, frutas do conde, alfavacas, milho, maracujás, mamões, tomates, uvas e muitas outras frutas e hortaliças.
Nossos vizinhos, e pessoas que passavam pela rua onde morávamos, ficavam encantados com a diversidade de vegetais que nasciam e eram colhidos por nós, em nossa “fazenda”.
Minha mãe era a que cuidava, praticamente sozinha, desse pedaço de paraíso na terra.
Dizia-se que ela era uma pessoa que conseguia milagres quando o assunto era plantas. Qualquer muda, fosse de uma árvore, fosse de uma flor, quando ela cuidava, crescia, se desenvolvia e chegava a idade adulta com lindas frutas, e lindas flores.
Quando descrevi acima o que colhíamos nos “canteiros de Dona Alcina”, talvez você, leitor, tenha imaginado que esse pomar, ou coisa que o valha, seria muito grande e ocupasse uma enorme área de terra. Mas saiba que tudo isso era plantado, e colhido, em uma área de aproximadamente 5 metros quadrados. Isso mesmo!! Era uma faixa de terreno de 50 centímetros de largura, por aproximadamente 10 metros de extensão.
Uma parte desse canteiro era reservada para a preparação da terra. Ali, quase sempre, minha mãe enterrava as cascas das verduras e legumes que usara para fazer as refeições do dia. Ficavam ali por algum tempo e depois essa terra era usada para adubar as nossas plantas. Era um trabalho de paciência, dedicação e amor. E o resultado era sempre surpreendente: lindas flores, lindos frutos, folhagens viçosas.
Mas, havia um mistério que pairava sobre aquela plantação: qual o milagre que sua dona realizava para colher frutos e flores tão belas, durante o ano todo?
Bem, Dona Alcina não era assim tão milagreira a ponto de cultivar e colher Rosas, Cravos e belas tangerinas, laranjas etc., que nasciam, cresciam e amadureciam de um dia para o outro. Seu encantamento por sua horta era tanto que lhe era difícil olhar para ela e não ver frutas maduras e flores abertas, SEMPRE.
Então, sorrateira e matreiramente, à noite, ela pegava laranjas, maracujás, maçãs, ou qualquer outra fruta que tivesse em casa, e as pendurava nos ramos do limoeiro, ou de outra árvore, ou arbusto que crescia em seu pomar. Na manhã seguinte tudo eram flores e frutos viçosos, e as pessoas, que por lá passavam, ficavam surpresas e encantadas ao ver tanta beleza que, como um verdadeiro milagre, surgia no pomar de Dona Alcina.
O mais interessante nisso tudo era o fato de as pessoas não questionarem a “origem dos milagres”. Todos curtiam. Alguns acreditavam no fenômeno, outros faziam-se de crentes.
Muitas vezes colhi laranjas no pé de limão, tangerinas nas roseiras…. Nesses momentos, eu ria e fazia de conta que nosso pomar realmente era do paraíso.
Aprendi com isso, que cada um de nós pode fazer seu próprio paraíso se aprender a “colher laranjas em uma linda roseira’, ou ‘rosas em um limoeiro’.
Tudo vai depender da flexibilidade do meu olhar. Todavia, ele não deve me distanciar da realidade, mas, sim, me ajudar a compreender que não é necessário aguardar a primavera para colher lindas flores, ou para comer deliciosos frutos.
Assim era, lá no pomar de nossa casa.