CARL R. ROGERS e HIROSHI ITO

j.l.belas

Agosto de 2020

RECORTES DO LIVRO INTRODUCCIÓN AL COUNSELING

AUTOR: HIROSHI ITO

Editorial Razon Y Fe, S.A- Madrid-España-1971

 

 

INTRODUÇÃO

        Relendo o livro Introdução ao Couseling, de autoria de Hiroshi Itö, pensei que poderia ser interessante dividir com meus leitores partes do conteúdo desse documento, principalmente aquelas nas quais esse autor mostra algumas semelhanças entre as ideias propostas por Carl R. Rogers e as de alguns filósofos orientais.

Como não sou um conhecedor de filosofia oriental, peço a quem ler este texto e tenha um conhecimento mais aprofundado sobre este tema, que acuse o que possa estar em dissonância com as ideias dos pensadores aqui citados.

 Desde já, agradeço a colaboração.

                          j.l belas

                                           

ROGERS  E  HIROSHI ITÖ

        Certamente muitos psicólogos que trabalham tendo como referência teórica a ACP desconhecem um livro, escrito por um professor japonês chamado Hiroshi Ito, cujo título é INTRODUÇÃO AO ACONSELHAMENTO.

        No prólogo do livro que nos serve agora de base para esse texto, lê-se:

        “… o professor Hiroshi Ito, é atualmente um dos conselheiros mais famosos e estimados no Japão.  Nascido em 1919, na província de Akita, fez seus estudos na Universidade Imperial de Tokyo e, ao graduar-se em 1948, foi para a Universidade de Missouri na qual obteve o Master of Education in Guidance and Counseling. Atualmente (1970) é professor de Counseling na Universidade Nacional de Yokohama e Diretor Chefe da Associação de Conselheiros Japoneses.”

        Embora as quatro primeiras partes do citado livro sejam muito interessantes e lance as bases para a compreensão das seguintes, vou ater-me à quinta e tentar mostrar a vocês o que ele nos apresenta em relação aos pontos que, a meu ver, trazem uma contribuição singular  para a teoria e prática da terapia centrada na pessoa.

Nessa parte do livro, a quinta, Hiroshi Ito, nos fala sobre a importância da qualidade da relação (counselheiro/terapeuta)-cliente para o sucesso da terapia e nos chama atenção para o que ele denomina de “A verdadeira Relação Humana”. Diz ainda que esta seria uma das condições básicas para que o homem possa chegar a “ser ele mesmo”, “na plenitude de suas faculdades” e “criador”.

O professor Ito, ao levantar essa questão, nos prepara para uma outra indagação que é sobre as condições necessárias e suficientes para que ocorra um processo terapêutico.

“El hombre se hace a si mismo entre los hombres.” Ou seja, é dentro de uma relação humana que o homem tem chance de se tornar homem ( no sentido pleno da palavra, “ser humano” ). 

Acrescenta que essa relação homem/homem se diferencia da relação homem/coisa, sendo esta última uma relação de manipulação.

“ De aquí que la ‘técnica de las Relaciones Humanas” como se llama en la Enseñanza y en la Industria, a la técnica de la manipulación y manejo del hombre, nos sea , de ningún modo, técnica de las Relaciones Humanas, sino técnica de las relaciones entre el hobre y  las cosas.”

  Se as relações humanas não são uma técnica, então o que são? (Pergunta ITÖ).

Laotze nos fala sobre “o caminho do homem” e Rogers nos fala sobre a base necessária para as mudanças da personalidade do cliente na Psicoterapia, ou no Counseling. Para ambos, as condições estão determinadas por algumas características existentes no relacionamento humano.

“A essência das relações entre homem e homem, não está no como fazer, mas no como ser.”

“Disso resulta que a condição fundamental reside no ‘ambiente psicológico’”

Rogers chama a isso de condições (não de técnicas) da atitude do conselheiro, e as divide em três fundamentais, que são:

  • Congruência, ou autenticidade

  • Consideração positiva incondicional

  • Compreensão empática

Essas três condições coincidem com o que Laotze escreveu há dois mil e quinhentos anos.

1-Congruência

Esta condição sugere que o conselheiro seja autêntico, genuíno, íntegro na relação de aconselhamento. Ou seja, ele tem que “ser seu EU” profundo e mostrar, de forma correta, sua consciência de si mesmo.

“Parece claro que si el conselour es un hombre ejemplar en su modo de ser e integro en todos los aspectos de su vida, será capaz de llevar a cabo un cambio constructivo en los demás, por médio de sus relaciones com ellos.  Sin embargo Rogers no pide tanto.  Lo único que dice es que si durante el tiempo de la relación se muestra tal y como es, es decir, si es su verdadeiro yo en esse sentido básico, eso basta.  Pero esto nos plantea muchos problemas que hay que tratar de resolver.

La condición que acabamos de exponer no pide que el counselor sea ideal o perfecto como individuo.  Lo único que quiere decir es que ha de ser él mismo.

…Es posible que haya un momento en el que el counselor se vea obligado a expressar, en um cierto grado, sus sentimientos al cliente. Sin embargo Rogers limita una tal situación al caso en que las otras dos condiciones se hayan cumplido satisfactoriamente.

Esta condición está perfectamente de acuerdo com lo que en el capítulo 38 del “Laotze” se disse acerca de la “moralidad” (o humanismo).

“El hombre de gran virtud

No la exhibe como propia.

Entonce es su virtud real.”

Isto quer dizer que o conselheiro deve estar livre de todo tipo de “construções pessoais”, ou “considerações” que o levem a se preocupar com qual será a causa de tal problema, o do tipo de enfermidade do paciente , ou do modo de proceder em relação ao que o cliente lhe disse.

“…sólo podemos aceptar y compreender la actividad íntima del cliente cuando no hay ningún obstáculo que esclavice  nuestro corazón, cuando estamos vacíos, cuando adoptamos el partido de no tomar partido, es decir, en una palabra, cuando somos realmente ingênuos. Cuando nuestro corazón está libre de impedimentos y ligaduras podemos movernos libremente en la dirección que queramos.”

Takuan, um mestre Zen, fala sobre este tema em seu livro “La Sabiduría Inmóvil”.

Antes de continuar e exemplificar o que vem a ser a “sabedoria imóvel”, acho interessante a gente ressaltar algo interessante que pude perceber neste livro do professor Ito.

Nós costumamos falar sobre congruência de tal modo que sugere que o terapeuta deve ser autêntico, genuíno, transparente para o cliente, e coisas deste tipo. Todavia, neste livro sobre o qual me debruço no momento, a ideia de genuinidade, ou congruência ganha um formato um pouco diferente, e talvez mais contundente.

Pelo que eu entendi, o ser congruente é uma consequência, natural, originada na capacidade do terapeuta de estar concentrado no mundo do cliente, sem que nada de sua experiência pessoal interfira em sua percepção do outro.

A percepção de si mesmo é somente uma parte bem específica e bem delimitada da relação do terapeuta com seu cliente. Ela não se mistura com o que ele percebe no outro.

A consciência que o terapeuta tem de si é algo natural para ele e bem definido com parte dele, que ele sabe que está presente no momento da relação.  Mas, essa consciência de si, não deve interferir na percepção do todo que ele está observando durante o contato terapêutico.

Ainda como exemplo do que chamamos aqui de “sabedoria imóvel”, um conceito importante para entendermos  melhor o sentido da “congruência” em Rogers, Takuan nos diz:

“Quando olho para uma árvore vejo que uma das folhas é vermelha e minha mente se fixa nela.  Quando acontece isso eu passo a ver somente uma folha e deixo de prestar atenção em todas as demais folhas da árvore. Porém se, ao contrário, olho a árvore sem nenhuma ideia preconcebida, então vejo todas as folhas da árvore.  Uma única folha é capaz de deter minha mente e impedi-la de ver o resto.  Porém se a mente se move incessantemente então é capaz de ver milhares de folhas sem perder nenhuma.”

“Es decir, que el secreto de la Sabiduria Inmóvil está em que no haya nada que obstruya o impida el movimento del corazón.”

Podemos entender esta imagem como indicação do quanto precisamos estar em harmonia interna e “integrados” em nosso eu, para que possamos, em contato com outra pessoa, estar ali plenamente, e assim, sem esforço, percebê-la também na sua plenitude.

Hiroshi Ito nos fala também sobre a importância de praticarmos uma atenção fluida, que não fique presa a nada em particular, atenta a tudo sem esforço. Se nossa mente se detiver em algum ponto, nenhum dos outros pontos obterá nada dela, e o resultado é rigidez e cegueira.

“… se alguma coisa cola em nossa mente, ela deixa de se mover e aí já não poderá ver nem ouvir por mais sons que entrem em nossos ouvidos e por mais que a luz resplandeça diante de nós.”

2- Aceitação Positiva Incondicional

Este conceito é bem semelhante ao que Laotze chama de “benevolência”.

        No capítulo 38 do “Laotze” está escrito:

“O homem de grande benevolência (ou de benevolência superior) age, certamente, porém nunca faz isso impulsionado por motivos pré-estabelecidos.”  E o professor Hara explica isso dizendo: “o homem de grande benevolência possui um amor de vai além do que é comum, um “coração vivo” que não para de renascer a cada momento e que age espontaneamente sem se preocupar nem um pouco com recompensas.”

Esta benevolência é a “incondicionalidade” da qual nos fala Rogers. Ou seja, a ausência de “fins”, ou como se diz “um amor que não busca recompensas”

3- Compreensão Empática

 

A comunicação verbal, por parte do cliente não basta para, muitas vezes, compreendermos exatamente o que ele nos quer dizer. Por isso, não é aconselhável que o Conselheiro se atenha somente à ela.

Compreender o cliente apenas através de um olhar “de cima”, “de fora”, de uma forma objetiva, não nos leva à compreensão, mas a uma imposição que leva à manipulação, o que gera manipulacionismo, julgamentos, diagnósticos , surgindo disso tudo a impossibilidade de aceitação e empatia.

O conselheiro deve sempre responder aos estímulos que lhe chegam vindo do cliente com o sentido da palavra japonesa “kotaeru” que significa:” responder a partir do fundo do coração”. Ou seja, não de uma forma intelectual.

A INTERCONEXÃO DAS TRÊS CONDIÇÕES

  • Se dentro de mim existem impedimentos ou falhas, sua simples existência atrapalha a aceitação e, consequentemente, a empatia. O que nos leva a pensar que as três condições se interrelacionam.

  • Laotze nos mostra essa interrelação de forma mais clara.

À primeira vista não parece que exista nenhum conceito em Laotze que se ajuste à ideia de “empatia”.  Porém como nos diz o professor Hara, a “cortesia” de Laotze significa que  “Temos que mostrar os próprios sentimentos de um modo discreto, porém que não deixe dúvidas”. Então pode-se pensar que esta cortesia corresponde à “expressão da empatia”, já que esta é, com certeza, o resultado e a expressão do “humanismo” (toku) [“El hombre de gran virtude]  e benevolência (jin) [Aceitação Positiva Incondicional .

 Finalizando, sugiro que assistam ao vídeo que está disponível no meu site www.jlbelas.psc.br cujo link, diretamente para ele, é :

http://dotsub.com/view/15f0467f-d351-4224-acf5-df3f2ba9d5a0#.T1zfgMuRFkm.gmail