O AJUDANTE

Jlbelas

jan-2021
Aos meus queridos colegas que estão iniciando suas vidas profissionais na maravilhosa arte de Ajudar.

 

Em algum lugar do planeta, em um certo dia, nasceu uma criança.

Ela, como a maioria das outras que habitavam ali, cresceu, foi aprendendo sobre a sua realidade e, aos poucos,  formou uma ideia bem definida de si mesma e do lugar que ela ocupava naquele espaço.

Poder-se-ia dizer que ela era normal, muito equilibrada, muito sadia, sem grandes problemas pessoais a serem resolvidos.

Ao longo de seu desenvolvimento, foi adquirindo muitos bens (principalmente os não materiais) e eles foram guardados, com muito carinho e cuidado, dentro dela.

Quando penso nessa criança que se tornou um ser pensante e conseguiu armazenar em si muitas ideias, lembranças, valores, sensações, ao longo de sua jornada no mundo, imagino como se ela tivesse se tornado dona de um enorme caminhão de transporte de cargas.  Mas não imagino um caminhãozinho qualquer. Não! Imagino um daqueles só vistos em filmes de Hollywood, com um baú revestido em aço inox, com 14 pneus, com capacidade para centenas de metros cúbicos de carga. Daqueles que tem um cano de escape lateral e uma buzina que mais parece apito de locomotiva, ou de navio de cruzeiro. Dá pra você imaginar o que eu imagino?   Pois é! Essa pessoa é dona desse “caminhão”.

Um fato curioso é que esse baú contém um amontoado de objetos, os mais variados. Há nele joias, alimentos, roupas, máquinas, livros, cadernos, caixas e mais caixas não sei de quê. O que me parece mais interessante, é a existência de uma conexão entres todas essas coisas materiais com milhões de pensamentos e ideias que povoam o mundo interior daquela pessoa. Fico imaginando, se houvesse possibilidade de se avaliar aquele tesouro, que aquela pessoa guarda dentro de “seu caminhão”, quanto ele valeria? Creio que muito!

Zeloso de seus pertences e ideias, essa pessoa, a quem darei a partir daqui o nome de CAMINHONEIRO, é quem cuida, sozinho, de tudo aquilo que é o conteúdo do baú de seu caminhão. Geralmente não admite que ninguém toque em qualquer coisa desse seu tesouro. Ele mesmo arruma tudo, limpa, verifica o motor, os pneus, a arrumação de sua carga, define por qual estrada viajará, a velocidade que imprimirá ao seu caminhão enquanto estiver a dirigir rumo ao seu destino.

Esse caminhoneiro, como a maioria dos que vivem na e da estrada, vive da troca, da venda, da compra, das entregas, dos recebimentos… Seu viver é marcado por ações que visam aumentar seu “tesouro” e, para isso, entra em contato com muitos compradores e vendedores com os quais estabelece um processo de trocas constantes.  Nelas reside seus ganhos, suas perdas, o crescimento de seu tesouro pessoal.

Ele, e somente ele, dirige seu caminhão. Não confia à ninguém essa tarefa, pois teme que alguém, por não conhecer bem seus mecanismos , não consiga dirigi-lo como ele faz e acabe destruindo ou danificando seu tesouro.

Acontece que, embora ele seja uma pessoa bastante forte, poderosa, segura, independente, capaz, o caminhoneiro não deixa de ser humano e, como tal, sujeito a “defeitos” e “enguiços”.

É justamente nesses momentos, quando algo nele enguiça, que ele procura ajuda de uma outra pessoa.

Imaginemos que ele sofra um pequeno corte em um dos seus dedos da mão. Esse ferimento, embora pequeno, passa a atrapalhar seu manuseio do volante e principalmente suas tarefas de arrumação das coisas que estão dentro do baú de seu caminhão.

Por andar por muitas estradas, nem todas bem pavimentadas, esse caminhoneiro tem que dirigir por vias com muitos buracos e por isso desarruma, constantemente, a carga preciosa que carrega.

Ao perceber que o que transporta se encontra muito desorganizado, o caminhoneiro  tenta fazer esse trabalho de arrumação sozinho.  Logo percebe que ao tentar fazer isso seu dedo dói, trazendo para ele um desconforto considerável.

Ele continua na estrada, mas se sente incomodado com o fato de saber que há coisas a fazer como seu tesouro, mas não consegue deixar tudo arrumado e seguro como gosta.

O caminhoneiro então, ainda que receoso, inseguro, temeroso, resolve pedir ajuda a alguém, mesmo não conhecendo bem a tal pessoa que talvez possa ajudá-lo.

À beira da estrada por onde realiza sua viagem, avista uma pessoa e pede a ela que o ajude.

Essa pessoa aceita o pedido e os dois combinam o valor do serviço que aquele ajudante realizará.

O trabalho principal é arrumar o baú que contém todo o tesouro do caminhoneiro. Mas, quem dá as ordens finais é o dono do caminhão. Ele sabe o que precisa ser feito, conhece muitas coisas que estão empilhadas no baú. Algumas ele nem se lembra que estão ali por terem ido para lá há muito tempo.

Enfim, o ajudante vai seguindo as ordens do caminhoneiro, colocando caixas, pacotes, objetos, em lugares seguros e bem arrumados.

Uma vez ou outra, o ajudante sugere: “Não seria melhor se colocássemos esta caixa mais pesada na parte de baixo? “ O caminhoneiro ouve e decide o que fazer, se aceita, ou não a sugestão do ajudante;

Pode acontecer também que o ajudante, mexendo no que há ali dentro do baú, encontre um objeto que ele não conhece e pergunta ao caminhoneiro o que seria aquilo. Surpreso, o dono do caminhão exclama: “Ah! Há muito tempo não via isto! Nem sabia que ainda o possuía!  Quem bom!!! Coloque aqui mais perto da porta!!! Preciso muito disso. Não posso perdê-lo de vista novamente.”

Depois de algum tempo do início do trabalho, a tarefa termina.

Nesse momento, o caminhoneiro paga ao seu ajudante e se prepara para continuar sua jornada pelas estradas.

O dedo machucado talvez ainda doa um pouco, mas não a ponto de lhe causar maiores desconfortos e dores.

Caminhão na estrada. Conteúdo do baú razoavelmente arrumado. Caminho a seguir escolhido. A viagem continua.

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Nota: Nesta pequena estória, qual o papel e a importância que se pode atribuir ao AJUDANTE?   Você já pensou a respeito?

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