Religião: reflexões

RELIGIÃO: CAMINHOS DA FÉ

jlbelas
janeiro de 2022
  Lembro-me bem como me senti quando, pela primeira vez, disse para minha mãe que não iria à missa naquele domingo. A expressão em seu rosto era de decepção e tristeza. Imagino que ela tenha ficado surpresa com minha decisão, pois assistir à Santa Missa sempre fora minha prática.
        Tinha eu então meus 21 anos de idade e pela primeira vez não cumpria minha obrigação como seguidor de Cristo.
        Minha mãe foi catequista por mais de seis décadas. Iniciou a dar aulas de catecismo aos 14 aos e fez isso até sua morte.
        Eu, desde pequeno, via Dona Alcina (como carinhosamente as crianças a chamavam) encher-se de orgulho ao concluir mais uma turma de alunos e levá-los a receber a primeira comunhão.
        Minha mãe não era uma pessoa “beata”, uma “papa hóstia”, como se dizia daquelas que viviam enfurnadas em templos, fazendo de tais lugares o centro em torno do qual suas vidas giravam.  Não! Dona Alcina era uma pessoa de profunda FÉ em Deus. O que significa que a “Igreja” nunca foi maior do que sua convicção no Poder Divino.
        Participava desde adolescente das cerimônias religiosas na igreja que frequentava e, no momento certo, fez-se “filha de Maria”.
        Ir à missa, para ela, mais do que cumprir um mandamento, era ter um lugar para orar com outras pessoas e se sentir mais perto de Deus.
        Quando declarei que não iria mais à missa, imagino que ela tenha sentido como se eu estivesse me afastando d´Ele. Isso poderia ter-lhe causado uma enorme preocupação, creio eu.
        Mas é aí que ficou evidente sua Fé. Em vez de pedir que eu reconsiderasse minha decisão, ou sugerir alternativas, ou me criticar, nada me disse.  E o que presenciei naquele momento foi algo que me marcou profundamente.
        Seu olhar de espanto, de surpresa, foi-se dissolvendo em lenta transformação.  Em seu lugar surgiu um olhar doce, de aceitação profunda, tirando de mim a sensação de culpa que inicialmente senti.
        Era como se ela percebesse que eu “precisava” fazer aquilo: afastar-me para ver melhor.
        O tempo passou. Chegou a fase da Universidade. Contato com muitas pessoas que viviam em mundos muito diferentes do meu. Estudos de Filosofia, Genética, Fisiologia, Psicologia, Sociologia…, e tantos outros, me mergulhavam em um oceano de novas ideias que me colocavam muito distante de tudo aquilo que balizava minha realidade e minhas verdades.
        No meio disso tudo estavam as religiões, agora, mais do que nunca, plurais.
        Lancei-me na busca de conhecer, o quanto podia, os princípios sobre os quais as religiões se fundamentavam. Nessa procura comecei a olhar em várias direções, inclusive para trás e, com isso, reencontrei minha mãe.
        A religião professada por Dona Alcina, agora eu podia compreender, possuía o pilar que sustenta quase todas as outras religiões.
        Pude compreender o amor que todos tinham por ela: seus alunos, seus irmãos, seus vizinhos, seus amigos. Nunca conheci uma pessoa que não gostasse de minha mãe. Nunca conheci uma pessoa da qual ela não gostasse.
        Descobri, depois de tanto tempo, que todas as Religiões têm como pilar principal algo que existia em profusão na Dona Alcina: um amor verdadeiro que não cobra, não julga e que, por isso, aceita a realidade exatamente como ela é.
Esse mesmo amor que ela sentia pelos outros, se estendia a ideia de Deus: ela também não cobrava nada d´Ele, não O julgava bom ou mau. Ela simplesmente aceitava Seus desígnios e sabia que Ele, como o Criador, saberia sempre o que seria melhor para aqueles que Ele havia criado.
Descobri que isto é o verdadeiro sentido daquilo que chamamos de FÉ.
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