jlbelas – dezembro 2021
Há alguns anos não pensaria em escrever um texto com este conteúdo. Até porque somente há pouquíssimo tempo dei-me conta de que estava ficando velho, ou melhor dizendo, idoso.
Você sabe o que alguém sente ao olhar naquele espelho, seu conhecido de muitos anos, e se perguntar: quem é esse cara??? Pois é! Fiz esta pergunta há poucos dias ao olhar para o meu querido espelho, cúmplice dos meus mais velados sentimentos narcísicos.
Olhei, olhei… e, depois de alguns minutos de questionamentos sobre minha lucidez, entre dúvidas oftálmicas, reflexões sobre possíveis consequências de uma noite mal dormida e até sobre a iluminação do quarto somada aos defeitos desses espelhos modernos que não se compararam com os de antigamente…, não pude deixar de concluir que aquele que eu estava vendo ali, naquele espelho era, REALMENTE, um tal de José Luiz Belas!!!
Um choque!!!!
Fiquei meio “esquizo”, querendo me convencer de que aquilo seria algo passageiro. Logo, logo, o antigo, aquele que eu conhecia de longa data, surgiria me dizendo: “Ah!!! Peguei você!!! Foi um brincadeiriiinha!!!! Só queria ver como ficaria sua cara de espanto!!! KKKKKK”
Mas, que nada, aquele cara irreconhecível continuava a me olhar, lá de dentro daquele maldito espelho. E aquele cara, indiscutivelmente, era EU!!!
Depois de alguns minutos de grande luta interior, conclui que não havia perdido minha lucidez. Ao contrário, ela agora estava brotando de novo após aquele momento traumático, quando me vi refletido naquele “desmascarador impiedoso”.
Comecei a aceitar aquela nova imagem e, aos poucos, fui até percebendo que ela não era tão ruim assim. Afinal de contas aquele era eu e, usando a inteligência que ainda me restava, o melhor a fazer seria me convencer de que ainda havia sobrado algo interessante naquela imagem refletida naquele “maldito espelho”.
Ser idoso é um fato objetivo: você pode constatar em sua carteira de identidade. Aceitar-se como idoso é um gesto de coragem, é admitir que seu carro já tem as lonas de freio gastas e que você está viajando em uma estrada que você desconhece, sem sinalizações, cheia de perigos que se apresentam a você sem aviso prévio. E aí você tem que usar de toda sua experiência como “motorista” pra evitar que seu calhambeque – você – se espatife na primeira curva que encontrar.
Bem, não posso afirmar que essa seja uma experiência agradável, mas, sem dúvida, é emocionante!!!
Por isto, convido a todos os meus amigos idosos a colocarem seus calhambeques – vocês – na pista e virem se divertir comigo.
Enquanto houver gasolina no tanque, mesmo que haja nele só um pouquinho, acredito que valha a pena gastá-la até o final.