Educação de Educadores
J.L.Belas
Artigo publicado no Jornal da Serra – Nova Friburgo/RJ. dez.,1982
Ultimamente, tenho-me interessado bastante por um tema que, cada vez mais, vem-me fascinando, à medida que vou descobrindo – pouco a pouco – sua importância, através da minha vivência numa instituição escolar.
Refiro-me à “Educação de Educadores”.
Reconheço, por meio dos contatos que regularmente mantenho com professores de diversos níveis de ensino (da educação infantil até a universidade) que existe um número bem grande de profissionais desta área com uma visão clara do seu papel, conscientes de suas funções e, mais do que isso, com uma postura pessoal e uma proposta de vida que se coadunam com a natureza do trabalho que desempenham junto a seus alunos
No meu trabalho em Escolas, tenho dado muita importância, diria mesmo prioridade, à formação do professor, que lida com crianças muito pequenas. Acredito ser muito importante que as pessoas que trabalham com tais crianças se sintam bem com elas mesmas, tenham um nível razoável de ajustamento psicológico, para que consigam – verdadeiramente e de modo espontâneo – criar condições que facilitem o desenvolvimento mais pleno de seus alunos.
A educação do educador de crianças muito jovens precisa levar em conta a necessidade de eles aprenderem mais, ou igualmente, sobre si mesmos do que sobre os temas que terão que ensinar em sala de aula. Atitudes, condutas e conteúdos dos professores precisam ter o mesmo peso.
A criança pequena, de um, dois ou três anos, quer saber sobre o meio em que vive, de modo muito prático, concreto. Quer experimentar todas as coisas. Olha um objeto, põe-no na boca, cheira, toca, enfim, usa todos os seus sentidos para conhecer seu mundo. Nesse contato, nessa busca, ela, às vezes, se complica, quebra objetos, se machuca, etc. Nesses momentos, a ação do educador é de suma importância, já que não seria aconselhável impedir a criança de fazer suas experiências, de descobrir seu mundo, mas também não seria desejável deixá-la exposta a riscos maiores, que poderiam lesar sua integridade física ou psicológica.
Poder equilibrar situações como essas, sem cercear a criança, sem sufocar essa característica dela, tão saudável, que é a sua curiosidade, sua vontade de conhecer, permitindo que ela cresça, conservando seu interesse pelas coisas que a cercam, é uma qualidade extremamente importante em um professor. Portanto, um profissional de educação eficiente, entre outras qualidades que possui, é aquele que consegue dar condições a outra pessoa para que viva suas experiências de modo pleno, sem limitá-la desnecessariamente, sem impedir que seus desejos de descobertas fiquem sufocados por medos e inseguranças.
Ser um educador eficiente é ser alguém capaz de se por ao lado do aprendiz. Não à sua frente, nem atrás dele.
Ser educador é pôr-se no lugar do aprendiz e conseguir sentir, profundamente, a importância de cada descoberta que seu aluno faz, de cada experiência que ele vivencia.
Ser educador é ser um aprendiz. Seu mestre, o próprio aluno.