Pular para o conteúdo
Jlbelas
Jan-2022
O ano, 1954.
Nesse ano ganhei minha tão desejada bicicleta.
Uma Phillips, aro 26, perfeita para meu tamanho.
Sua estrutura revestida de tinta preta, adornada com frisos dourados e vermelhos sobre os paralamas e o quadro. Era uma obra de arte.
Havia nela uma campainha que produzia um som muito agradável, pouco comum de se ouvir.
O porta-embrulhos era amplo e confortável, possível de ser transformado em um “banco de carona”.
Essa “possante máquina” poderia ser comparada aos carros sofisticados de hoje. Naquela época, poucos possuíam uma como aquela, lá pelas bandas onde eu morava.
É claro que, a partir daquele ano, passei a ser visto com outros olhos, principalmente por uma menina que residia perto de minha casa.
Imagine: 1954, um jovem de 14 anos, feliz proprietário de uma “linda carreta”. Se bonito eu não era, feio demais também não. Assim, tinha tudo para fazer sucesso com as garotas. E não deu outra!!
Acontece que, como já se falava há muito tempo: “muitos serão chamados, poucos os escolhidos”, mais uma vez essa verdade se repetiu. Por isso, somente uma menina conseguiu usufruir das maravilhas que a minha “carreta Phillips” poderia proporcionar.
A tal garota era vibrante, alegre e de “grandes iniciativas”, o que encantou aquele inexperiente garoto, ainda meio bobão e ingênuo, transformando-o em um menino perdidamente apaixonado.
A bicicleta era o tempero principal de quase tudo que acontecia, de forma “callente”, entre esses dois adolescentes. Eles começavam a experimentar as primeiras colheradas de uma “sopa de fortes emoções”.
Ir buscá-la na escola passou a ser uma atividade quase diária daquele garoto que não tinha olhos para mais ninguém.
Vir sentada no porta-embrulhos, ainda que pudesse ser mais confortável, não substituía a aventura à dois que acontecia quando ela preferia vir no quadro da bicicleta (espaço entre o guidão e o selim). Durante o percurso, até chegarmos em casa, o sol quente sobre nós ajudava a disfarçar o rubor de nossas faces. Era MUITA emoção!!!!
Lembrar disso hoje ainda me emociona.
Faz-me reviver o parto de fortes experiências que despertaram em mim a sexualidade, o amor, a paixão, o querer bem, a amizade, a vida.
Creio que, desde 1954 até hoje, viver, para mim, ganha sentido através de sentimentos semelhantes a esses.
Ainda hoje, aquela “bicicleta Phillips”, que concretamente não existe mais, é uma linda e importante lembrança aconchegada dentro mim que transforma cada momento de minha vida em algo especial, que valha a pena ser vivido.
****************************