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jlbelas
02 de novembro de 2021
Não sei se o tempo, a chuva que cai agora, miudinha, me inspira a pensar sobre esta data e, a partir disso, surgem em mim muitas recordações, muitas imagens como um longo filme de rostos conhecidos e gostosos de serem lembrados.
Percebo-me estar a pensar sobre temas tais como eternidade e finitude.
E este último talvez seja um daqueles que já vivenciamos quando ainda somos muito pequenos, crianças.
Logo no início de nossas vidas vivemos perdas concretas, de coisas: brinquedos principalmente. Quando isso acontece ficamos surpresos, tristes, choramos. Na maioria das vezes tais coisas reaparecem como mágica trazendo de novo, para nós, a alegria perdida por alguns momentos.
Essas perdas, talvez sejam a primeira experiência de finitude experimentada por nós. Damo-nos conta de que as coisas podem sumir, acabar e nunca mais aparecer.
Entretanto, nesta fase da vida, aprendemos também que muitas perdas podem ser recuperadas. Surge a esperança do reencontro. Isso nos dá um alento e nos faz continuar na busca. Assim, passamos a esperar que, em algum momento, iremos encontrar o que havíamos perdido.
Acontece que a gente cresce e outras perdas se aconchegam em nós, nos levando a perceber que, diferentemente daquelas anteriores, as da infância, não as recuperaremos, nunca mais. Quando isso acontece, a noção de finitude chega até nós com uma forca imensa: ACABOU! Nunca mais recuperarei o que tinha!!!
Essa sensação, altamente angustiante, e experimentada principalmente quando o que foi perdido tem para nós um grande significado.
Nesses momentos, passamos a realmente compreender o que significa finitude e a constatar que nada é eterno.
Todavia, se nos conformássemos com essa constatação, a vida ficaria com pouco ou nenhum sentido. Se concluíssemos que haveria, sempre, para tudo, um começo, um meio e um fim, a tristeza se apoderaria de nós, criando um grande vazio dentro do qual nos perderíamos.
Como uma forma de evitar tanto sofrimento que tal vazio nos traria, inventamos, sabiamente, uma eternidade, um não acabar. Nesse espaço no qual nada se acaba, reencontraríamos os nossos tesouros perdidos.
Quando fazemos isso, matamos a morte.
Criamos a eternidade para não morrermos. Criamos a eternidade para mantermos vivo aquilo que valorizamos.
Por continuarem vivos em nós, poderemos revê-los, senti-los, continuar a conviver com cada um deles, “eternamente”. Poderemos “ver” seus rostos, suas vozes, seus gestos, seus olhares. E, dependendo do que tenham representado para nós, reviveremos amores e ódios que marcaram nossos relacionamentos com essas pessoas.
Chegando nesse ponto, “passado/presente” já não têm mais o mesmo significado de antes.
Descubro-me sendo o templo onde habita o tempo.
Nada se acaba enquanto a eternidade morar dentro de mim.