OCEANOS AZUIS
J.L.Belas
Novembro de 2010
Crianças chegam ao mundo com uma quantidade enorme de recursos para conhecê-lo. Seus sentidos, em desenvolvimento acelerado, lhes vão dando meios para reconhecer o bom, o ruim, o belo, o feio, o quente, o frio…
Quando ainda bem pequenas, a percepção que elas têm do ser humano quase se resume a uma face, um rosto.
Deliciam-se quando uma pessoa se aproxima delas e, de repente, põe a mão no próprio rosto, “escondendo-o”. A criança ri, quando a mão é retirada da frente do rosto, como se a pessoa diante dela, por uns momentos, houvesse, por inteiro, sumido e aparecido de surpresa.
O rosto, para uma criança pequena, é o outro todo. Representa o que a pessoa à sua frente é e o que lhe comunica.
Imagine o que provavelmente um garoto, recém-nascido, na maior parte do tempo cercado por rostos com olhos escuros, sentia quando surgia diante dele uma pessoa com belos olhos azuis. No mínimo, olhava para aquele rosto e registrava algo diferente, incomum.
Mas, imagine ainda que esse azul surgisse ao mesmo tempo em que uma voz suave e delicada chegava aos seus ouvidos. Certamente deve ter sido uma experiência inebriante, um misto de amor, envolto em paz. O céu não poderia possuir nada além daquilo. Assim eram os olhos de Maria, que tinha por segundo nome Magdalena e por sobrenome Jesús. Maria Magdalena de Jesús, este é o nome dela, pessoa amiga, que guarda ainda a beleza desse celeste olhar.
Quando eu ainda era um bebê, com poucos meses de vida, Maria foi-me visitar, conhecer o afilhado de seu irmão, grande amigo de meu pai.
Certamente ela não estava muito acostumada a substituir uma mãe ocupada, que lhe pedira para que trocasse as fraldas de seu pimpolho.
Maria, toda solícita e provavelmente feliz pela honra a ela concedida de realizar tão nobre e importante tarefa, pôs-se à lida.
O menino, como a maioria dessas pequenas criaturas faz, ao sentir passar por algumas regiões estratégicas do seu corpo uma rajada de ar frio, não perdeu tempo, imitou o conhecido mascote do Botafogo, o Manequinho.
O possante “chafariz” daquele bebê era de fazer inveja aos mais famosos do mundo e, por isso, foi difícil para Maria escapar de sua hídrica fúria. Ela, que há muito fora batizada, vivia agora seu segundo batismo. Neste a água era bem diferente.
Muitos risos se ouviram. Riu até o choro. Ao chorar de rir, os olhos azuis de Maria mais brilhantes e bonitos ficaram. Para surpresa e encantamento do menino, as lágrimas risonhas haviam transformado aquele cândido olhar em dois belos e inesquecíveis OCEANOS AZUIS.